Estou aqui. A minha História pesa nas pedras banhadas de luz, erguidas ao calor do tempo presente. E há um grito surdo, dir-se-ia um protesto em cantochão na vizinha necrópole rusticada. Como se eu próprio, naquele único testemunho calado da primitiva construção, me revoltasse perante a memória atraiçoada nos inevitáveis restauros.
Por dentro, desbravando dilemas entre o visigótico
e o moçárabe, estremeço de emoção na lembrança dos milhares (milhões?) de fiéis,
eu próprio anterior a mim, pés que pisaram o mesmo chão, corpos curvados sob os
mesmos arcos, mãos erguidas na busca da mesma luz, almas rasgadas em aflições
não diferentes das que hoje ainda ecoam na mudez das pedras vivas. As minhas.
Faço
caminho para aqui chegar. Estou em caminho desde aqui. Sou o homem cristão
ibérico à procura de mim, à procura do Outro em mim. Sou a humanidade: erguida
como as pedras sobrepostas, finita como os corpos enterrados, imparável como o
tempo. E deixo a minha marca nestes resíduos de História. Estou aqui.
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