domingo, 11 de junho de 2017

Texto octogésimo terceiro

A escrita é uma superação. A escrita literária é uma transcendência. Não importa o tema, a literatura é esta forma de sobrevoar a existência, agarrá-la de cima num arabesco, arrancá-la do solo e espalhá-la pelo firmamento numa poeira de estrelas, para que ela de novo chova sobre a terra em gotas de sangue cristalino. E se entranhe e fertilize. E se devolva maior. A literatura é a existência enriquecida de fantástico.
Em Teu Ventre é José Luís Peixoto a ensinar-nos o fantástico. Abordando o tema das aparições de Fátima, relata os factos sem concluir, descobre mistérios sem dar explicações. A narrativa não toma partido, porque cada leitor tem direito ao seu próprio fantástico (e à sua fantasia, que é a redução dele em categorias explicáveis), mas coloca-nos num fogo cruzado de perspetivas divergentes, uma espécie de forma aberta literária na qual não podemos permanecer neutros nem acabar onde começámos, talvez assim tenha acontecido ao autor. A escrita é uma superação.
A escrita literária é uma transcendência. Em Teu Ventre aborda o tema das aparições de Fátima colocando-o para lá dos factos, no território de mistério onde ele pode ser debatido. Tal como a nossa vida, afinal o verdadeiro mistério a que José Luís Peixoto quer chegar. Não importa o tema, a literatura é esta forma de sobrevoar a existência, agarrá-la de cima num arabesco, arrancá-la do solo e espalhá-la pelo firmamento numa poeira de estrelas, para que ela de novo chova sobre a terra em gotas de sangue cristalino. E se entranhe e fertilize. E se devolva maior.
A literatura é a existência enriquecida de fantástico. Em Teu Ventre é o fantástico da existência, uma pérola de literatura.