domingo, 30 de outubro de 2016

Décima sexta alegoria

Não desistes
Negamos-te uma vez
e outra no azedume
dos nossos medos de nós
fracos pequenos grãos
de poeira ensimesmados

Não desistes
Cravamos-te uma vez
e outra na violência
dos nossos ódios dos outros
ódios que falam línguas
incompreendidas das torres de Babel
esquecidas das paisagens de Éden
perdidas

Não desistes
Ofereces-te livre em sorrisos
de sol que gozamos
em excessos apenas
Derramas-te de graça em sementeiras
de chuva que maldizemos
nas tempestades que colhemos
Ingratidões ao vento de não
saber agradecer?

Não desistes
És no que amas
em nós amas
no que és
em ti. Amor e
só.

Não desistes.

domingo, 16 de outubro de 2016

Texto setuagésimo

Loucura. A verdade em que vivemos. Demência. O excesso que de nós extravasa. Escrever sobre isso. A necessidade que em nós grita. A ânsia de entender, o desejo de estar próximo.
Mens Sana. Oito contos que, na diversidade própria da variedade de autores, abordam este universo que é de nós todos. Com coragem, porque nos textos há uma força de catarse: palavras sem filtro expostas no espelho das páginas em que se estendem. Sem comiseração, porque em cada história há um vigor de manifesto: não se lamenta a condição humana, aceita-se para sobre ela construir as existências a haver.
Mens Sana. A literatura – universo tão mais verdadeiro que a realidade! – aproxima-nos da loucura em nós, solidariza-nos com a demência nos outros. Humaniza-nos. E para isso ela serve. Transcende-nos. E a isso ela aspira. Mobiliza-nos. E por isso ela vence. 
Mens Sana. Oportuna publicação da Editora Livros de Ontem. Escrita cativante. Urgente leitura.

domingo, 2 de outubro de 2016

Décima quinta alegoria

avanço
passo a passo
o olhar baixo
poisado na terra de onde o corpo se ergue

avanço
passo a passo
os pés fincados no alto
de um destino à espera

avanço
passo a passo
a alma suada na depuração da busca
enxuta de cansaços
no abraço do corpo
carregado
                  imparável

avanço
passo a passo
até mais não
o fim

quando?