tag:blogger.com,1999:blog-72512168699810665162024-02-22T06:54:36.534-08:00Álvaro CordeiroÁlvaro Cordeio é um autor Livros de Ontem.alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.comBlogger217125tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-48098020750752208572019-11-27T14:08:00.000-08:002019-11-27T14:08:38.047-08:00Não é uma despedida<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não é uma despedida. É um agradecimento
reconhecido a todos os que, desde abril de 2013, me acompanham neste espaço
onde venho partilhando sentimentos e ideias na forma de esboços literários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não é uma despedida. É uma nostalgia
antecipada neste olhar sobre toda a escrita que por aqui fui deixando, mãos
abertas em prosa ou abraço poético intimista. Há uma sensação de dever cumprido
por ter-me dado a conhecer nestes anos, depois da longa travessia em que, no
sussurro de um casulo de gavetas, apurei o meu grito de abrir asas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não é, pois, uma despedida. Apenas a
notícia de que vou lançar-me num voo maior. A partir de agora, deixarei de
dizer-me neste espaço e estarei no meu novo site, onde revisitarei alguns dos
textos que aqui escrevi e publicarei inéditos, onde partilharei conteúdos
diversificados e darei as mãos a outros escritores e artistas, em encontros e
parcerias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;">Não é, decididamente, uma despedida. É
um convite: a partir de 1 de dezembro, quero dar-vos as boas-vindas em <span class="MsoHyperlink"><a href="https://alvarocordeiro.pt/">https://alvarocordeiro.pt</a></span>.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow", sans-serif; font-size: 12pt;">Lá vos espero. Obrigado por
estarem comigo. Até já!</span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-24249131041137694902019-11-24T14:48:00.000-08:002019-11-24T14:51:11.534-08:00Ficção XXV - Esperança na espera<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow", sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">Deitou-se
à espera dela. Antecipava-lhe a chegada, de olhar fito na porta fechada que
seria desnecessário abrir. Ela estava do outro lado, sabia-o bem, postada numa
espera paciente, inexorável. A duração da expectativa dependeria da noção que
ela, do outro lado, tivesse do momento certo, do seu sentido de oportunidade,
não de pressa. Ela nunca tinha pressa, considerou ele, deitado à espera desde
que o anúncio dela lhe soara dentro em sintomas vagos. Foram tonturas esboçadas,
primeiro, depois dores discretas aparentemente inócuas. A seguir vieram os
tremores, os gestos tolhidos, as descoordenações inexplicáveis. Até ao
diagnóstico, um envelope fechado entregue em mão num gesto mecanicamente
afetuoso, uma espécie de palmadinha nas costas esterilizada. O veredito de uma
doença incurável, degenerativa. Uma sentença final sem data de execução.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Deitou-se
à espera dela, desde então. Em tudo o que fazia permanecia deitado à espera, em
todas as conversas que travava, em todas as deslocações em que parecia já não
ir a parte alguma, em todos os sonhos que invariavelmente desembocavam no beco
sem saída de não haver espaço nem tempo para concretizá-los.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Às
vezes, no leito daquela insuportável expectativa, desejava apressá-la. Ou, ao
menos, precipitá-la num último ato de dignidade. Sabia que, na sua implacável
crueldade, ela esperaria até ao limite, do outro lado da porta fechada. Talvez
a entreabrisse numa dor aguda ou num espasmo lancinante, sopro de infundada
esperança inconsequente. Mas esperaria, prolongaria até ao limite, e porventura
para lá dele, a lentidão da decadência e da perda, assistiria sem ver ao
despojamento de toda a sua humanidade física, intelectual, espiritual e moral.
Então, quando nada mais lhe restasse a não ser a existência, abriria então a
porta num último gesto escancarado para vir colhê-lo, já putrefacto mas ainda
não cadáver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Deitou-se
à espera dela. Porém, por dentro, permanecia erguido na esperança. Porque sabia
que, na hora marcada, a porta se abriria para um túnel de luz e tudo o que
restava dele seria sorvido num vórtice de surpresa e transcendência, uma paz
que antecipava na expectativa impotente, o movimento contido na inércia, a
esperança alimentada na espera. Sabia que ela viria tomá-lo pela mesma mão que
o trouxera para o choro primeiro, a mesma ternura na viagem dolorosa, o mesmo
sofrimento de amor. Algo por que valia a pena todo o caminho que restava, por
mais pedregoso e arrastado que fosse.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;">Deitou-se à espera dela,
porque sabia. Sabia porque acreditava.</span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-7161076577612318672019-10-06T07:42:00.000-07:002019-10-06T07:42:46.988-07:00Texto centésimo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abro a janela num gesto claro de manhã de outono,
acolho o sol generoso que me inunda, luz e calor, graça que nunca agradeço
bastante. Na calma matinal respiro uma vontade de chuva, bela na sua
necessidade, perfeita no seu incómodo. Vem-me um sabor agridoce de recordações
ambíguas: o céu escurecido largando o seu chumbo em descargas que me inundam de
tristeza e desconforto; a seguir o cheiro colorido da terra depois da chuva,
espécie de arco-íris de frescura interior, algo como um odor de gravidez que me
lembra origem e ressurreição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abro a janela num gesto claro de manhã de outono.
Mesmo em pleno dia, o negrume da cidade sempre me ensinou, talvez por privação,
a policromia da natureza: o castanho da terra, o verde da floresta erguida a
recortar o azul do céu por entre a alvura das nuvens, a transparência
camaleónica da água verdejante na melodia dos regatos, azulada no espelho do
mar, cinzenta no empedernido das fontes, morena na tepidez dos oásis; por ser
incolor dá-se a todas as cores e, assim, tudo nos dá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abro a janela num gesto claro de manhã de outono, o
horizonte de civilização faz-me ajoelhar numa vergonha de culpado, o meu braço
aberto pesa-me como cabeça deposta no cepo, aguardando a merecida pena. Pecamos
contra a natureza que nos castiga sem querer, o seu movimento de retribuição é
uma luta surda entre a gratuidade e a cobrança. Somos nós os devedores:
espezinhamos a terra que nos é pródiga, corrompemos o ar que nos vivifica, rebaixamos
o fogo a carrasco de uma devastação autofágica, esbanjamos a água de que somos
feitos, desprezamos a vida em todas as espécies possíveis, na nossa também.
Sabemos o que continuamos a querer ignorar, somos insensíveis porque recusamos
sentir.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;">Abro
a janela num gesto claro de manhã de outono, a brisa que nasceu pura abraça-me
numa fraqueza poluída, é um choro de mãe traída pelos filhos que amamenta. E
peço ao Deus de tudo que nos desperte uma sensatez que nos salve. Em cada gesto
nosso. Hoje.</span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-65521139311683222912019-09-29T14:14:00.003-07:002019-09-29T14:14:15.767-07:00Texto nonagésimo nono<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">Entro no quarto vazio da minha solidão procurada,
fecho a porta das vozes que me atordoam, canto de sereias que amiúde me seduz.
Sento-me no chão da minha ingenuidade antiga, há um tapete encardido que me
priva agora do frio revigorante do soalho, tábua rasa que outrora fui. De
pernas cruzadas sobre a consciência de mim, cerro as persianas do olhar, faço
escuro por dentro. Invoco o mais íntimo de mim, essa máxima elevação onde te
busco, esse completo abismo onde me encontras. Há uma chama solitária que em
mim grita a tua luz, quero banhar-me nesta quietude em que todo te dizes no meu
ser, a surdez de que me fiz não deixa. Entrego-me nesta revolta em que fujo,
castigo-me na dor do perdão que me infliges. Eis-me.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-family: Arial;">Invento-me no mistério que sou, desvendo-me na evidência
que és em mim. Não me entendo nada, só quero abrir os braços da prece
atormentada para que me acolhas, na esperança de que me acolhas. Chamo-te nas
palavras que em vão me repito, sei que a tua resposta está no eco demolidor dos
silêncios que me rejeito. Não me entendo nada, nem quero nem sei, ponho-me todo
na súplica de que não precises de entender-me, nem queiras porque sabes.
Agarro-me à dor do teu perdão como asas de anjo que me salvem do abismo, cedo à
injustiça do teu amor que não consigo. Acorrento-me a esta finitude em que me
libertas sempre. E creio. Eis-te.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial Narrow", sans-serif; font-size: 12pt;">Reabro
as persianas, descruzo as pernas. Há um caminho de luz para lá da porta
escancarada. Não entendo nada, avanço. Desço a montanha rumo ao vale de
lágrimas onde me esperas neles. Eis-nos.</span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-20145683858950375412019-03-17T07:45:00.002-07:002019-03-17T07:47:32.422-07:00Texto nonagésimo oitavo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O caminho estreito alcatroado entrava-lhe pelos
olhos dentro na vastidão com que se lhe estendia pela frente. O menino largou a
mão do avô e ficou estático na contemplação daquele rumo sinuoso. Havia um
banco na berma, junto à valeta empedrada, um ornamento de ferros pintados de
negro servindo de estrutura à simplicidade de duas pranchas vermelhas. O avô
sentou-se, descansou a sabedoria que dele transbordava na paciência de observar
o menino, sorriso resplandecente de olhar o inexorável destino que se lhe
desenrolava diante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O menino moveu a cabeça, rodou o olhar pelas
árvores em volta: identificou os eucaliptos, conhecia-lhes a altura implacável,
sabia-lhes a inconfundível curvatura das folhas derramadas pelo chão,
atapetando a terra húmida, fundindo-se nela em harmonia perfumada. Os aromas… E
havia também as bagas, graciosas e duras, que muitas vezes caíam no caminho
onde ele se desabituara de pontapeá-las desde que o avô lhe ensinara que não se
agride a natureza a que pertencemos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entre os eucaliptos rareavam pinheiros teimosos,
vestígios da anterior vegetação dominante, segundo o avô contara. O menino
achava-os mais bonitos do que os eucaliptos, o tronco mais castanho, a ramagem
mais frondosa, a caruma mais verde. E as pinhas, fantásticas obras de arte que
ele tantas vezes recolhia e levava para casa, onde certa vez o seu pai se
lembrara de, escolhendo as mais perfeitas, pintá-las em tons de oiro e prata
para adornarem a base da árvore de Natal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Voltou a fixar o olhar no caminho à sua frente, mas
os sentidos vagueavam-lhe agora pelos sons, o vento versejando por entre os
ramos, o chilreio de pássaros diversos fornecendo rimas àquele universo
poético. Concentrou todo o seu tato nas plantas dos pés, sentiu a terra
subir-lhe pelo corpo, crescer por ele e possuí-lo em todo um hino da criação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Parecendo distraído, o avô eternizou-se em breves
segundos de contemplação, grato pelo imenso mundo interior que transparecia no
menino, pelo universo de sensibilidade que o habitava. Depois levantou-se
devagar, aproximou-se. O menino olhou-o com aquela veneração inocente que
sempre lhe escorria dos olhos. O avô passou-lhe a mão pela cabeça, numa carícia
deslumbrada. E disse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Hás de escrever isto, um dia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tomou-o pela mão e continuaram o passeio pela mata.<o:p></o:p></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-73037197778707127582019-02-24T04:33:00.002-08:002019-02-24T04:33:58.375-08:00Texto nonagésimo sétimo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.45pt;">Escrito há vinte e muitos anos para uma peça de
teatro musical de que fui autor e encenador (e intérprete, também…). Exprimindo
esse embrulho de contradições e buscas que sempre me foi casulo, revela uma
infância poética que me acorrentava à rima e só me autorizava a fugir da
métrica para ir em busca do ritmo da música, essa outra métrica mais forte.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Com as evidentes ingenuidades, é um testemunho do
meu percurso literário que me apraz partilhar… <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Trago a vida sem fiel nem prumo<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Perco-me por noites de dilema<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Às vezes queria ter um rumo<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E fazer da vida um poema<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas ergo castelos de amargura<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Trago a solidão por diadema<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Só queria ter uma alma pura<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E fazer da vida um poema<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É o poema da vida<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tão enrouquecida que eu quero cantar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É no poema da vida <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quem sabe perdida que eu quero encontrar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O apoio, o apoio<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Que me anime a caminhar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E me ensine
a separar<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O trigo do joio.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-14680744371098043662019-02-10T06:13:00.000-08:002019-02-10T06:17:10.304-08:00Dizer a imagem 16 - Afinal?...<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3X1nOZHjo0hg7voDK1bzhhnrOeH1yJNDVIrioBFm_HtOV1odx89VfRw8E9VpyszIbc0U4CaIKa0KfdYeCiFmg9FHwRyWgZE5KQfR33vfGKE90Y9kH2lJhHXolrp4bCs2hY_puNGxsirM/s1600/Imagem16.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="683" data-original-width="1024" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3X1nOZHjo0hg7voDK1bzhhnrOeH1yJNDVIrioBFm_HtOV1odx89VfRw8E9VpyszIbc0U4CaIKa0KfdYeCiFmg9FHwRyWgZE5KQfR33vfGKE90Y9kH2lJhHXolrp4bCs2hY_puNGxsirM/s320/Imagem16.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já
me fui embora das roupas que me tornavam visível. Há um abandono de pregas
desordenadas, uma inutilidade de biqueiras alinhadas, um vazio. Histórias
incompletas de uma vida que acabou. Uma ausência, um desejo de mais, uma
saudade. O que resta de nós quando nos vamos sem aviso? O que fica no aviso com
que premeditamos uma inevitável partida? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já
me fui embora das roupas que me tornavam visível. Há um luto que alastra como
enchente poluída, todas as cores se diluem num desgosto negro sem voz, a
própria luz de tudo parece sufocar no tenebrismo opaco de nada mais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já
me fui embora das roupas que me tornavam visível. Mas as memórias todas chovem
teimosas, ensopam a secura das vestes na humidade dos passados que ainda, as tábuas
do soalho absorvem a muda transparência do meu corpo que já não. Pleno é o meu
nome na boca de todas as lembranças, a interpelação luminosa que inunda o oco
negrume da ausência, a ânsia de ficar. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Já
me fui embora das roupas que me tornavam visível, grito-me em tudo o que resta
na ânsia de ficar. Entre a brevidade e o eterno, permaneço afinal?</span><br />
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>(Fotografia de Jorge Figueiredo)</i></span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-49155432877952057402019-02-03T03:11:00.000-08:002019-02-03T03:11:34.457-08:00Ficção XXIV - À espera de ti<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Todos
os dias entro neste café, sento-me à mesma mesa e fico à espera. De te ver
entrar como naquele dia, empurrada para dentro pela chuva torrencial e súbita,
desígnio tempestuoso que te trouxe a mim. Chegaste num rasgo de fuga ao dilúvio,
cambaleaste numa acrobacia inibida perante o fogo cruzado de todos os olhares
do espaço repleto, encostaste-te à única cadeira vazia naquele antro de
refugiados da intempérie. Diante de mim, na mesa onde eu estava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E
cruzámos olhares de cores diferentes, o meu queixume negro e desiludido chocou
com a verdura fresca e esperançosa da juventude que irradiavas. Tacteámos palavras
de saudação, experimentámo-nos numa conversa de circunstância, não quero
incomodá-lo, não faz mal esse lugar está livre, desculpe estou encharcada, pois
é a chuva veio de surpresa, ao menos aqui está calor, sim podes aquecer-te e esperar.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Despiste
o casaco ensopado, eu aliviei insensivelmente o aperto do cachecol que enrolava
ao pescoço como ridícula marca de intelectualidade literária. Assim nos fomos
revelando numa conversa de chá quente, gostos de leitura e peripécias de
viagens, histórias partilhadas numa progressiva infusão de intimidades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Saíste
quando o céu limpou o aguaceiro de março e se tingiu de um azul luzidio de
primavera anunciada. Levantaste-te, vestiste o casaco já apenas húmido e saíste
num jeito bailarino de pássaro livre, tudo lá fora chamava por ti. Observei-te
impotente, a mesa diante de mim como mansarda romântica, o meu espírito livre projetado
em ti, o meu corpo emparedado incapaz de seguir-te, tudo em mim pedia que
ficasses. Gostei de conhecer-te, eu também gostei de </span><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 16px; text-indent: 47.2px;">conversar consigo</span><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.4pt;">, talvez nos reencontremos,
talvez sim venho aqui de vez em quando, quem sabe noutro dia de chuva, quem
sabe até num dia de sol.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Todos
os dias entro neste café, sento-me à mesma mesa e fico. À espera de ti.<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><o:p></o:p></b></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-41250409105517395612019-01-20T03:58:00.001-08:002019-01-20T03:58:48.019-08:00Texto nonagésimo sexto<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou da escrita. Desde sempre, sou da escrita. Desde
o vagido retardado de um nascimento moroso, desde a muda timidez do olhar
crescendo assustado pela imensidão descoberta na estranheza das coisas, virado
para dentro no fascínio de uma imensidão escondida maior, mais estranha. Sou da
escrita desde o bloqueio da sociabilidade, certa prostração da fala perante
quase todas as conversas, afastadas de mim nos ares ventosos da sua vacuidade
ou entranhadas no mar opaco de uma inacessível densidade. Entre a
insignificância e o desperdício, desde sempre me refugiei, diferente, na
escrita, mergulho apaixonado na minha própria intimidade labiríntica,
interlocutor de mim mesmo numa ironia sem fim. Uma fuga.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou da escrita. Desde sempre, sou da escrita. Sangrei
para gavetas pacientes, durante décadas, o fluido de todas as feridas do mundo,
observadas ou sofridas, estigmatizadas ou auto-infligidas. E, em todos os sangramentos,
calei-me ao rodar da chave sobre as páginas cicatrizadas. Um dia, porém, as gavetas,
porventura fartas, regurgitaram a sua voracidade vampiresca no grito em que enfim
me devolveram ao mundo, numa centelha de palavras esvoaçantes. E publiquei-me.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou da escrita. Continuo a ser da escrita, mesmo se
o meu silêncio nela se transforma em comunicação através dela, mesmo se, de
eremitério, ela se transforma em convivência. Encontro agora, neste exercício de
dizer-me a mim mesmo, um sentido maior de dizer-me ao outro, de dizer o outro a
si próprio quando ele a si próprio se lê em tudo o que em silêncio me escrevo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou da escrita. Serei sempre da escrita, único meio
de imortalidade na cidade dos homens. Porque as palavras ditas expiram quase
todas no próprio ato de dizê-las, sepultadas nos ouvidos que apressadamente as
esquecem. Serei sempre da escrita, não porque seguirei escrevendo, mas porque
já me escrevi todo até onde pude, nas linhas publicadas e nos rascunhos que as
gavetas ainda ruminam. E continuarei a escrever, não para dizer-me mais, mas na
busca de dizer-me melhor, eterno aprendiz de feiticeiro manejando as palavras
como ingredientes mágicos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;">Sou
da escrita. Para sempre.</span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-75690684458265792542018-11-11T05:09:00.004-08:002018-11-11T05:10:08.080-08:00Texto nonagésimo quinto<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vou voltar para casa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Há dois anos que conto os dias que me arrancaram às
leivas serranas e me arrastaram para Tancos, onde um apregoado «milagre»
treinou as minhas mãos afeitas à sachola para as engatilhar na luisinha que
os bifes me entregaram quando aqui desembarquei. Depois arrastaram-me por estas
Franças adentro, mai-los meus camaradas, até nos porem a cavar as trincheiras
onde nos emparedaram, a morte zumbida em tiros sobre as nossas cabeças igual à
que rastejava aos nossos pés, nos ratos esfaimados que nos roíam a sola gasta
das botas encharcadas, t’arrenego! Só mais rápida, por isso muitos dos nossos
preferiram rasgar fardas e pele no arame farpado e aventurar-se pelo campo
aberto, onde haviam de acabar tombados de um susto na lama da terra de ninguém,
a mesma da vala imunda onde definhávamos lentos, à míngua de comida, calor e
carinho dos nossos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sulcos na terra só antes conhecia os do meu arado,
onde a gente botava a semente que havia de morrer para as nossas vidas. Mas
aprendi nas trincheiras que há covas abertas como valas comuns a perder de
vista, onde somos semeados para uma morte que não aproveita a ninguém. De um
lado e de outro, é indiferente, pois é pelo fruto que se conhece a árvore e
pela planta que se avalia a semente e nada resta para ver quando acabamos todos
mastigados pela mesma terra, retalhada por obuses que a ensurdecem para a
diferença das línguas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Posso falar disto agora porque vou voltar para
casa. O pesadelo acabou e os senhores da guerra decidiram a paz. Os dois lados
encontraram-se, não a surdir das valas de armas na mão a cuspir morte, mas
entrando para uma carruagem de comboio empunhando canetas para se comprometerem
por escrito. Há quem diga que a razão de ser num comboio foi para manter a
localização secreta, outros afirmam que foi para que todos se sentissem em
terreno neutro, como a terra de ninguém onde se misturam cadáveres de todas as
fardas. Os senhores da guerra decidiram a paz, mas eu, humilde português
desconfiado, interrogo-me sobre a seriedade de tal decisão. Estaria o comboio
parado na hora de firmar a escrita das convicções? Ou terão as sacudidelas do
vagão feito as assinaturas tremer de falsas? E a tinta permanente que pingou
dos aparos titulares, não virá a ser apagada no futuro pela malícia dos
herdeiros?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não me importa isso agora, que vou voltar para
casa. O pesadelo acabou e eu sobrevivi, muito graças às curvas da sorte e à
bênção de Deus, um pouco também à minha desajeitada perícia de camponês a
imitar soldado, bem haja eu. Se calhar foi tudo obra da Senhora vestida de luz
que apareceu lá pelas serras do meu torrão e cuja proteção todos os meus esfolaram
os joelhos a suplicar. A todos agradeço e o que mais quero é regressar,
sentar-me à lareira e aquecer os pés até queimar neles a lembrança da lama das
trincheiras, roer a boa da côdea caseira que me faça esquecer os enlatados com
cheiro de fábrica. E depois coser os dedos à sachola até despegar deles os
tiques de ceifar vidas que a luisinha me ensinou. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vou voltar para casa e quero apagar de mim estes
dois anos de vida que a guerra me tirou na morte a que me fez convidado. Bem
tive que me esforçar para não aceitar o convite, cáspite!... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vou voltar para casa e limpar a memória. Mas a data
de hoje, 11 de novembro, essa nunca hei de esquecê-la. Nem daqui a cem anos!...<o:p></o:p></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-86995141462300942242018-11-04T12:15:00.002-08:002018-11-04T12:15:51.253-08:00Texto nonagésimo quarto<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/aqOGScSUXL0/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/aqOGScSUXL0?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Terá sido a música, melodia singela orquestrada de
simplicidade, que me envolveu num veludo harmónico? Ou terá sido a letra, uma
ousadia de palavras a acender fachos de profecia nos meus vinte anos
deslumbrados? Ou talvez fosse apenas a mulher, sentada ao piano e numa solidão
desafiadora, as mãos espalhando energia criativa pelas teclas, o olhar gritando
a tanta gente o silêncio que a sua voz entoava docemente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Naquela noite de festival, em 1984, ouvir <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Silêncio e Tanta Gente</i> foi para mim uma
experiência indizível, um abraço musical aconchegante e desbravador, como
esfregar a lâmpada de Aladino e ver sair o génio poderoso e sensível da Arte
plena. Imensa no seu minimalismo, eterna no seu tempo medido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Inesquecível e imortal, a canção. Inesquecível e
imortal a sua criadora. Obrigado, Maria Guinot: por ser e por ter existido!<o:p></o:p></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-44559060961478340802018-10-28T02:12:00.001-07:002019-02-02T11:59:14.389-08:00Texto nonagésimo terceiro<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZZwD4FnEeV3kcTU5RgZcL-1GFA38UFsPhoEXbw7X95F-CfN2W-8MejBQDTbDh8zyKW198X_3z_tsgGm-SWREI20AUa8qQb9llKjxaS2HhaqeUpGf6lg3GwW_3ig0yg2e-ldTwyIN5AAI/s1600/Curso2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="960" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZZwD4FnEeV3kcTU5RgZcL-1GFA38UFsPhoEXbw7X95F-CfN2W-8MejBQDTbDh8zyKW198X_3z_tsgGm-SWREI20AUa8qQb9llKjxaS2HhaqeUpGf6lg3GwW_3ig0yg2e-ldTwyIN5AAI/s320/Curso2.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrever, escrever, escrever… porque só assim se
aprende a escrever melhor. Trabalhar a escrita incessantemente, carpinteirar a
matéria-prima das ideias com as ferramentas da técnica, fazer
brotar a inspiração e esgotar a transpiração.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E insistir na escrita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrever, escrever, escrever… porque só assim se
aprende a escrever melhor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escreve-se como se vive: gasta-se tudo em cada
coisa, a energia toda em cada ação ou encadeamento, o léxico inteiro em cada
frase ou sequência delas. E, como na vida, ganha-se no retorno, acrescenta-se o
que somos na proporção do que nos damos, cresce a qualidade da escrita na
prodigalidade com que nos esgotamos no seu exercício.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E insiste-se na escrita. Reinveste-se o capital
acumulado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrever, escrever, escrever… porque só assim se
aprende a escrever melhor!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É este o desafio da «Oficina da Palavra», o curso
de escrita criativa onde estarei para orientar e acompanhar, partilhar o que
sei e aprender tudo o resto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E insistir na escrita, sempre. Dizer-me todo em
palavras, buscando a Palavra que enfim me diga.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrever, escrever, escrever… porque só assim se
aprende a escrever melhor!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Vamos a isso?...<o:p></o:p></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-75813618716003721942018-10-14T06:10:00.001-07:002018-10-14T06:11:02.101-07:00Dizer a imagem 15 - Um ano depois<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9dhyphenhyphenBHi7xQ1ehzXOU8gOaROimHqhPEszWVgz34Q7B596f9KHvhG-fk5_uYxZIpxu37ob6rKILTnDSexHywJvabut-XQOmv2-69V6FN-m6IIagMp5Dvtc-fdrAHShx7INLd1fyFA66QdA/s1600/Imagem15.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9dhyphenhyphenBHi7xQ1ehzXOU8gOaROimHqhPEszWVgz34Q7B596f9KHvhG-fk5_uYxZIpxu37ob6rKILTnDSexHywJvabut-XQOmv2-69V6FN-m6IIagMp5Dvtc-fdrAHShx7INLd1fyFA66QdA/s320/Imagem15.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cristalizadas
na ferrugem, as lágrimas acordam. O ferro indestrutível diz a dor que não se
apaga. A destruição voraz faz-se recordar, teimosa no monumento triunfante,
implacável no vestígio da tortura. E todas as vidas decapitadas sangram-nos
ainda no inferno das consciências.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas,
do silêncio da terra, uma frescura reverdece. No ventre primordial germina uma
ressurreição obstinada. A Vida declara-se, colora os escombros, envolve o ícone
de morte numa moldura de recomeço. E a memória da centelha devoradora tem de
conviver com a visão do arbusto da promessa, sarça ardente profética.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O
mundo não é uma sala de espera terminal, mas uma planície de esperança
(re)construída. Um ano depois, a Vida continua!<o:p></o:p></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fotografia de @placeswithlovee<o:p></o:p></span></i></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-45626076693639101312018-09-30T02:16:00.002-07:002018-09-30T02:17:06.753-07:00Texto nonagésimo segundo<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrevo porque sinto. Nas emoções entrechocadas
sucessivas germina o impulso de todas as ideias possíveis. E das impossíveis
também, movidas pela urgência da sua própria impossibilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrevo porque calo. No silêncio da minha distância
introvertida constrói-se a teia transparente de uma eloquência trabalhada,
inequívoca. Inequívoca porque trabalhada?...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrevo porque sonho. No devaneio da esferográfica
pela planície das folhas brancas (ou no bailado em pontas dos dedos frenéticos sobre
o teclado) cabem todas as paisagens oníricas da imaginação. E da esperança, que
é o melhor dos sonhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrevo porque sou. Na existência que carrego há
uma essência irreprimível de palavras, busca multiforme e contínua da Palavra
que me faz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrevo, apenas escrevo. Só.<o:p></o:p></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-22045366886985446882018-09-02T09:39:00.001-07:002018-09-02T09:43:13.523-07:00Conversando... sobre o que se lê.<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX9bwMEBq89-V69uCFsrEMQJ4HHRHkRNCPxWmMZTER56a4u1nIFHpMXHLZtv-iOfNDr5D8JAn3FQV9eyR-IDdYRV9B84S8kJ7cOsJvcOFEmOMJiToR55pyIB658cWj9zT9fs3XxgTkcTA/s1600/Leituras2018.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiX9bwMEBq89-V69uCFsrEMQJ4HHRHkRNCPxWmMZTER56a4u1nIFHpMXHLZtv-iOfNDr5D8JAn3FQV9eyR-IDdYRV9B84S8kJ7cOsJvcOFEmOMJiToR55pyIB658cWj9zT9fs3XxgTkcTA/s320/Leituras2018.JPG" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Páginas que me absorveram nos últimos meses.
Leituras e releituras que apetecem, pela riqueza e diversidade de tempos,
conteúdos, estilos e intenções. Marcel Proust e um retrato de época numa renda
de bilros de sensibilidades e vícios. Nathaniel Hawthorne e a força das
personagens na narrativa de tudo o que não se conta. José Saramago e a
arquitetura literária erguida na argamassa consistente de uma escrita própria.
Henri Charrière e um testemunho misto de sobrevivência orgulhosa, fraqueza
assumida e perversidade denunciada (e autenticidade polémica…?).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eis alguma da literatura que me ocupou ultimamente,
que ainda trago em mim. E que me desafia à escrita. Urge-me. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Estará para breve um novo livro?…<o:p></o:p></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-64970938864925591952018-08-27T12:13:00.002-07:002018-08-27T12:13:26.074-07:00Vigésima segunda alegoria<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Silêncio equilíbrio<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">das palavras funâmbulo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">sem máscara transparente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">no olhar direto<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">nos passos sinceros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">os gestos sem medida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">no dom profundo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">em tudo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Silêncio grito<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">da existência livre<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de mentiras esquecido<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de medos transcendido<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">por tudo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Silêncio útero<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">divino alicerce<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de dentro opaco<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">na força indomável<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">no desejo equilíbrio<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">das palavras funâmbulo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">transparente verdade<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de tudo<o:p></o:p></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-24585817974211070102018-08-20T05:52:00.000-07:002018-08-20T05:53:52.279-07:00Texto nonagésimo primeiro<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghSXtWkfOynDctKbk583RVpkr3G4hxLd_1P8iJQ_ChLkCd0mQykPgF_TZCl1WXt1GM4zsnP56NibNC7J5OtbdLg8EIiNNyfIJGXq0oFbn0v76CYqX8CzoC8tnrW2grwjV0y9jPCKZXDbk/s1600/Lourosa2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEghSXtWkfOynDctKbk583RVpkr3G4hxLd_1P8iJQ_ChLkCd0mQykPgF_TZCl1WXt1GM4zsnP56NibNC7J5OtbdLg8EIiNNyfIJGXq0oFbn0v76CYqX8CzoC8tnrW2grwjV0y9jPCKZXDbk/s320/Lourosa2.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguj4XK8-bSmEkcPKpxmSyJ66xTOXbopCyrJWPb4VMF_jyCslDxxr47Dp7-uA_cuF80oRAbpOzwQVb7KFJhyphenhyphenG_6MC6OTET8PgblySHZH0gTqKQfbw7QKYJbbM_owQ3p6FORIohBgHdnP0k/s1600/Lourosa1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1125" data-original-width="750" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEguj4XK8-bSmEkcPKpxmSyJ66xTOXbopCyrJWPb4VMF_jyCslDxxr47Dp7-uA_cuF80oRAbpOzwQVb7KFJhyphenhyphenG_6MC6OTET8PgblySHZH0gTqKQfbw7QKYJbbM_owQ3p6FORIohBgHdnP0k/s320/Lourosa1.jpg" width="213" /></a></div>
<span style="font-family: "arial narrow", sans-serif; font-size: 12pt; text-indent: 35.45pt;">Estou aqui. A minha História pesa nas pedras banhadas
de luz, erguidas ao calor do tempo presente. E há um grito surdo, dir-se-ia um
protesto em cantochão na vizinha necrópole rusticada. Como se eu próprio, naquele
único testemunho calado da primitiva construção, me revoltasse perante a
memória atraiçoada nos inevitáveis restauros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Por dentro, desbravando dilemas entre o visigótico
e o moçárabe, estremeço de emoção na lembrança dos milhares (milhões?) de fiéis,
eu próprio anterior a mim, pés que pisaram o mesmo chão, corpos curvados sob os
mesmos arcos, mãos erguidas na busca da mesma luz, almas rasgadas em aflições
não diferentes das que hoje ainda ecoam na mudez das pedras vivas. As minhas. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;">Faço
caminho para aqui chegar. Estou em caminho desde aqui. Sou o homem cristão
ibérico à procura de mim, à procura do Outro em mim. Sou a humanidade: erguida
como as pedras sobrepostas, finita como os corpos enterrados, imparável como o
tempo. E deixo a minha marca nestes resíduos de História. Estou aqui.</span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-681414026938545232018-08-12T07:16:00.002-07:002018-08-12T07:16:50.343-07:00Texto nonagésimo<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ocupam tudo. Germinam sonhos nas palavras que
escondem como larvas, revelam o seu mistério em invólucros sagrados como
cálices. Ocupam tudo. Estendem-se pelas prateleiras como ondas de maré cheia,
abraçam-me a vida como trepadeiras, devoram-me a existência como feras
predadoras. Ocupam tudo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">São os livros. Forram-me as estantes, preenchem-me
a vida. Conquistam todo o espaço numa implacável presúria, transcendem-me o
espírito numa fartura insaciada. E ficam-me dentro, depois e para sempre, numa
plenitude transfiguradora e indizível. São os livros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando entram em mim, não mais poderão sair. Nem eu
deles, a comunhão é transubstanciadora e perene. Por isso a separação física é
irrelevante. Necessária, às vezes, porventura urgente: como não alargar para
outros a graça inefável que sobre mim desceu, gestos de bênção a cada virar de
página?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Gosto de dar livros. Gosto de dar os livros que me
fui dando e que tanto me deram de mim mesmo. Não são os meus bens que partilho;
é o meu próprio ser que reparto, a minha história que alargo numa expansão
significativa. E transformadora, porque as páginas em que me li irão
escrever-se noutras vidas mais e mais. Até ao infinito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">São os livros. Ocupam tudo.</span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-36646206288364753602018-03-16T10:03:00.001-07:002018-03-16T10:04:55.086-07:00Texto octogésimo nono<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDPjV32ekC04chaRl3rrE7XfAAupTP-si7P8L8s9X09J94_aTDJ-CirWHoYaTzOVsLsLmP24jqzDf2nrUN9H5c4hSOMOonl1Ej-t6cyyAn82BbVe_qlpR8xfm_Fgci8GuyycHgmA7I1qY/s1600/CHAVE+%252836+of+76%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDPjV32ekC04chaRl3rrE7XfAAupTP-si7P8L8s9X09J94_aTDJ-CirWHoYaTzOVsLsLmP24jqzDf2nrUN9H5c4hSOMOonl1Ej-t6cyyAn82BbVe_qlpR8xfm_Fgci8GuyycHgmA7I1qY/s320/CHAVE+%252836+of+76%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Outra vez.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Outra vez a chamada. O despertar dos bichos
hibernados, a carne reanimando-se num frenesim de gestos, a Palavra a
chamar-nos à incandescência dos diálogos, todas as emoções à solta no
irresistível apelo da floresta em chamas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Outra vez as coisas. O ritual das luzes calculadas,
a mecânica dos passos e a carpintaria das frases, a plantação de objetos falsos
e uma garridice de roupas cobrindo as nossas franquezas nuas. Outra vez
fingimento, a verdade inventada no tempero de tudo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Outra vez o encontro. O toque dos corpos no choque
dos espíritos, olhos fechados na entrega singela ou abertos em ambíguas
leituras, duas vidas enlaçadas numa encruzilhada de seres. Outra vez nós, os
mesmos talvez já outros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Outra vez Teatro. O fogo sagrado ardendo em nós. O
reencontro da chave perdida. O mundo imaginário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>Fotografia de Carlos Alberto Cavaco</i></span></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-56327620802690720332018-02-12T10:28:00.000-08:002018-02-12T10:29:02.078-08:00Dizer a imagem 14 - Mão<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmypauPP7sXZZDC2FhhGywI76ueyDKjm6_HVEs_MY5-4uV2RyuFqz9hP9ZzDLpNwoisH5nZ7-LnrPlUpUNjqw0aE6xSEA2HlGyo5f_-epcqqbATtw3KriwvIgrLEDUtH69znc8_T_OcTA/s1600/Imagem14.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmypauPP7sXZZDC2FhhGywI76ueyDKjm6_HVEs_MY5-4uV2RyuFqz9hP9ZzDLpNwoisH5nZ7-LnrPlUpUNjqw0aE6xSEA2HlGyo5f_-epcqqbATtw3KriwvIgrLEDUtH69znc8_T_OcTA/s320/Imagem14.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
mão diz a música, o gesto desenha a mão, a inspiração fecunda o gesto. No
movimento habitado dele há um requebro de Vida, um contorno de Eternidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">E
os olhares fitos, desfocados de si mesmos, concentrados nela. Apagados de tudo,
entregues ao brilho gritado numa elegância de dedos. Como seres inanimados na
própria existência alheada, animados numa Transcendência alheia apropriada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A
mão diz a música, o gesto desenha a mão, a inspiração fecunda o gesto. No
movimento habitado dele há um requebro de Vida, um contorno de Eternidade. Tudo
o que nos ilumina de fora brota, enfim, de uma luz interior.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fotografia de Carlos Alberto
Cavaco.<o:p></o:p></span></i></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-52912720765268990882018-02-04T04:17:00.001-08:002018-02-04T04:19:27.675-08:00Vigésima primeira alegoria<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ-PxlV-_vRkGnoo3_2ojn1-UMXcbCelam9CeWuE0rujMynfcIqhjvfxpWSwORa0Iut41Sais4EFGutGKaGClO1aAmi8ppot136WYiD3j4QMY7i56CKTTzr_qicvORP-sy8xX_YPfHv74/s1600/CHAVE+%252843+of+76%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ-PxlV-_vRkGnoo3_2ojn1-UMXcbCelam9CeWuE0rujMynfcIqhjvfxpWSwORa0Iut41Sais4EFGutGKaGClO1aAmi8ppot136WYiD3j4QMY7i56CKTTzr_qicvORP-sy8xX_YPfHv74/s320/CHAVE+%252843+of+76%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">pérola <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">eu algures<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">perdida a chave<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de mim perdida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">eu encontrada<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">nas amarras</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de ti à solta<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">por mim perdida<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">eu por ti<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">desejada sem saber<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">ser chave<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">perdida onde<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">encontrar-me?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">pequeno <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">tu algures <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">nas amarras<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de ti perdido<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">à solta por mim<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">desejado sem <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">saber ser<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">chave<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">perdida onde<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">encontrar-te?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>(Fotografia de Carlos Alberto Cavaco)</i></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-3018476088149982242018-01-31T14:01:00.001-08:002018-01-31T14:02:43.346-08:00Texto octogésimo oitavo<div class="MsoNormal" style="text-align: center; text-indent: 35.45pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVC4-fIBtA0N4kD7ydC83LhYx79ali5fbZ6QXfNUQdv1zKvJBSkn1VeVw_DMf8-ITXg-T92h-XG_EXiniWPBZwi_Pumbq5cpD3kapGlPjDI49EF6Et1wFjIYCzLGaCWKPYZdGSrmncH30/s1600/_MG_8119.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVC4-fIBtA0N4kD7ydC83LhYx79ali5fbZ6QXfNUQdv1zKvJBSkn1VeVw_DMf8-ITXg-T92h-XG_EXiniWPBZwi_Pumbq5cpD3kapGlPjDI49EF6Et1wFjIYCzLGaCWKPYZdGSrmncH30/s320/_MG_8119.JPG" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Digo-me neles nas palavras com que se dizem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cruzaram-se-me num acaso de vida, fitaram-se em
ânsias de mim, disseram-me nas palavras com que se disseram, estava lá desde
antes. Não sabiam?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Cresci neles por dentro, desinstalei-os e colidiram
na atração de uma busca. Suaram numa mistura de corpos desejosos de mim,
beberam-se em lágrimas das minhas emoções derramadas, sangraram num
retalhamento visceral de verdades reveladas minhas, inventadas neles.
Adormeceram em mim a cada passo, estive lá sempre, descobriram?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Brilharam enfim na noite, por quatro vezes na
noite, pomos de luz pendentes da névoa cinzenta dos dias. Irradiaram verdade e
busca, aspergiram claridade e sonho na treva manipulada, gritaram silêncios de
corpo e voz, alaridos das intenções todas. Disseram-me na Palavra que me digo
neles, estive lá desde sempre, já o sabiam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Regressam agora cheios de mim na plenitude de si
próprios. Já não podem calar-me na eloquência dos olhares, estendem-me entre
eles em diálogos de distâncias habitadas, beijam-me em abraços de memórias
sincronizadas. Digo-me neles nas palavras com que se dizem, estarei lá para sempre,
nunca o esquecerão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><i>(Fotografia de Jorge Figueiredo, no ensaio de </i>A Chave Perdida<i>)</i></span></div>
<br />alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-69522989851619759972017-12-30T02:59:00.001-08:002017-12-30T03:01:55.058-08:00Ficção XXIII - Cadência final (a partir de «A Chave Perdida»)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgvNXCyKytWosIDfhsjmB1hjyqodrHVv7z5CEEl1AsI2PFiKo-gGBBGwXFRhmWOk66AxX2GxobsiWRoY_3Tn6y66tPcWLBUKwyqnwyoyn6nFQITaM_UvB01M36ekMOvUp77TSuZCD2M60/s1600/CHAVE+%252858+of+76%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgvNXCyKytWosIDfhsjmB1hjyqodrHVv7z5CEEl1AsI2PFiKo-gGBBGwXFRhmWOk66AxX2GxobsiWRoY_3Tn6y66tPcWLBUKwyqnwyoyn6nFQITaM_UvB01M36ekMOvUp77TSuZCD2M60/s320/CHAVE+%252858+of+76%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Vais estar aqui, quando eu voltar? – perguntei, aflorando a conversa
que não queria ter. Porque precisava dela, transparência plana e descomplicada,
contraponto oco à densidade das minhas angústias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Onde é que havia de estar? Esta casa é minha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Senti a aceleração irreprimível da cadência final. Não consegui ser
agradável, não se pode modificar as notas da partitura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Não digas parvoíces, percebeste muito bem – repliquei, áspero. Ela
merecia ser preservada. – Quero saber se vais estar à minha espera.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Porque é que perguntas? Foi assim que perdeste as outras? – o ataque
desferido abruptamente, o repentismo da ignorância mascarando uma crueldade
ingénua. A Rita era genuína mesmo quando tentava dissimular-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Mais ou menos – respondi, tateando margens de fuga a uma discussão
estéril. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Se calhar tens um jeito especial para escolheres mulheres que te
deixam quando as ofendes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Afastei-me carregando a mala, senti o peso acrescentado da falta do fato
de banho, a densa discussão a partir dela. Talvez pudesse comprar um no <i>duty free shop </i>do aeroporto, ou já em
Praga, antes do concerto, o importante era não falhar a piscina, na manhã
seguinte. Transpus a porta aberta do quarto, tirei o porta-fatos do bengaleiro.
Olhei para a Rita do corredor, o túnel de todos os sintomas de solidão, uma
distância já imensurável até à pura intimidade dela, perdidas as noites de
respirações afinadas, a harmonia orquestrada dos corpos a uma lonjura
indizível. Os êxtases prolongados como sinfonias acorrendo à memória como meras
recordações sepultadas nos abismos da solidão sem cura. A não ser ela própria,
inexorável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Pelo menos sempre me pouparam a discussões – fui ainda capaz de dizer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Abri a porta da rua, reconheci o meu porta-chaves na fechadura,
retirei-o.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Fica com as chaves – atirei-lho, no gesto assertivo de remate do
último compasso. – Se eu voltar, bato à porta. Se não abrires, cá me
arranjarei.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Saí para o patamar de todas as minhas relações rompidas, as palavras
diferentes na mesma frase de todas as despedidas. Não olhei para trás, saudades
são fraquezas paralisantes. Premi o botão do elevador, acendi a luz do patamar,
vi a figura dela colada à ombreira da porta. Não lhe ouvi os passos, diria que
ela se transportou de modo incorpóreo, apenas no desejo de me reter. No seu
rosto lívido havia uma súplica vitimizada, o olhar oblíquo era um convite
desarmado, o corpo hirto de cariátide dizia uma expectativa sem desgaste.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Abel… – o timbre colorido não parecia brotar da sua figura exaurida,
antes do lusco-fusco escancarado da casa, correntes de ar impedindo a
concentração das ideias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">— Sim? – o meu desejo de reagir adiantou-se à minha decisão de
controlá-lo.</span><br />
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;">—
Porque é que tu não gozas a vida?</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><i>(Fotografia de Carlos Alberto Cavaco)</i></span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-90984502928862258382017-12-17T05:07:00.002-08:002017-12-17T05:08:33.895-08:00Ficção XXII - A culpa foi minha (a partir de «A Chave Perdida»)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjODwtNwfQBSbycRSDifFfPd4aLajyKn_9KWl7L30ja9lE8WrA0CBSGHQKDDSzdem07rD6szgik71N0F3XLWmQWRHV3DvI_hlvpnq0e3RjxHhTXm_1CPS9vy2OmRgX6_OSoBuVnfayBQzQ/s1600/CHAVE+%252830+of+76%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1067" data-original-width="1600" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjODwtNwfQBSbycRSDifFfPd4aLajyKn_9KWl7L30ja9lE8WrA0CBSGHQKDDSzdem07rD6szgik71N0F3XLWmQWRHV3DvI_hlvpnq0e3RjxHhTXm_1CPS9vy2OmRgX6_OSoBuVnfayBQzQ/s320/CHAVE+%252830+of+76%2529.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sim, a culpa foi minha. […] A culpa foi minha porque me sentei no sofá
durante a espera, fixei o olhar na bandeja e comecei a pensar nela, na outra,
na conversa que precisava de ter contigo sobre a outra. Por causa de há quatro
meses, por causa dos quatro anos até há quatro meses, por causa de hoje desde
há quatro meses. Por causa de. A culpa foi minha por causa de, desta frase
incompleta, da conversa que precisava de ter contigo sobre a outra e não fui
capaz, não consegui que os quatro anos até há quatro meses e todos os anos
antes dos quatro anos até há quatro meses me deixassem falar. Lembrava-me de te
amar desde sempre, desde o tempo em que comecei a conhecer-me, em que tive
consciência do próprio tempo, porque morávamos na mesma rua, crescemos juntos
naquela rua, eu via-te quase todos os dias porque o acaso permitia e senão eu
forçava a que permitisse, habituei-me a acompanhar-te no caminho para a escola,
habituei-me a gostar do que sentia quando estávamos juntos, habituei-me a
sentir que gostava de ti tanto quanto tu gostavas de mim. Ou mais. E, apesar de
tudo isso, deixei que os quatro meses depois dos quatro anos e de todos os anos
antes dos quatro anos até há quatro meses me impedissem de dizer-te o que
precisava de dizer-te na conversa que precisava de ter contigo sobre a outra.
Não deixei que ficasses a saber o que eu não sabia que não sabias sobre aquele
dia em que. Mesmo quando disseste o que nunca me tinhas dito, do telemóvel, de
me veres a segurar o telemóvel como um criminoso que não larga a arma do crime,
o número a escorrer do visor do aparelho, o número que o ocupava todo, que enchia
a minha mão, que se espalhava por mim adentro numa interrogação de depósito
rompido até à explosão da cegueira que me fez desviar os olhos da Sara no
momento em que. Se tivesses visto o número, talvez ainda possível a conversa
que eu precisava de ter contigo sobre a outra, talvez a bandeja com os copos
largos de pé alto, a garrafa de gin, as águas tónicas e o limão, talvez ainda o
tempo de ir buscar o gelo e dizer toda a verdade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;">Mas
não.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12pt;"><i>(Fotografia de Carlos Alberto Cavaco)</i></span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-7251216869981066516.post-69082089260557241952017-12-10T08:46:00.000-08:002017-12-10T08:46:10.674-08:00Vigésima alegoria<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou apenas grão de areia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">que ninguém pode encontrar<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pó que o vento desenfreia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">como simples grão de areia<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">que projeta pelo ar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sou gota no mar imenso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">que se revolve cansado<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mar de tudo quanto penso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">neste meu sentir imenso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">neste olhar sempre acordado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu só quero ser poema<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">da voz que dorme no mundo<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para que nasça dilema<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">numa estrofe de poema<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">que acorde o homem no fundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mas sou grão de pó sem nome<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">sou apenas gota de água<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Migalha que aumenta a fome<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">grito, lágrima sem nome</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "arial narrow" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">de um triste choro de mágoa.<o:p></o:p></span></div>
alvarocordeiro64http://www.blogger.com/profile/04975511538760466840noreply@blogger.com0