domingo, 21 de agosto de 2016

Texto sexagésimo quinto

Quero louvar-te, deus de todos os nomes e de todos os credos, da humanidade inteira e de todos os seres, da natureza viva e inanimada, de todo o visível e invisível, do imenso existente e do muito mais que há de existir. Quero afirmar que acredito que és e que estás comigo, acredito na tua essência em mim e na minha existência em ti. E sei que ambas me ligam a todos os seres e a tudo.
Como gostaria de ter palavras que dissessem a gratidão que sinto por toda a energia que derramas sobre mim na minha própria vida!... Sinto todos os dias um manancial de esperança e festa brotando do meu íntimo e sei bem que, nascendo em mim, este rio não é criação minha, ainda que não possa correr fora de mim. Porque eu sou na medida da inundação dele e ele apenas pode ser na minha vontade de permiti-lo. E, como eu, todos os seres. Pois tudo vem de ti.
Por isso me curvo diante de ti, deus de todos os nomes e credos, encolhido no remordimento dos vazios todos que se expandem por mim adentro e me fazem pouco mais que uma falsa vontade de existir em ti. Peço-te perdão por todo o sangue destruidor que derramo nos fluidos vivificadores que retenho pelo medo ignóbil de perder-me ao transbordá-los. Peço-te perdão por não saber nem arriscar ser mais feliz do que esta ideia mesquinha de satisfação própria que compreendo e aplico à minha limitada existência. Peço-te perdão por não ser capaz. E, como eu, todos os seres. Humanos.
E hoje, neste dia que é mais um e será o último para muitos de nós, inscritos no mistério de um tempo ignoto, entrego-te a inteira família humana, esta multidão de peregrinos que busca salvação por todos os caminhos possíveis. E pelos impossíveis também, quando não há outros. Entrego-te a gente toda, fonte e sinal de vida, da tua vida em nós, das nossas vidas em ti. Entrego-te todas as famílias do mundo, de qualquer número e género, pois todas são exemplo ou anseio de comunhão e amor. Entrego-te a minha família, que brota de mim como eu broto de ti, que vive em ti como eu vivo nela. Que amo mais que tudo, na profundidade espiritual desta proximidade carnal. 
E consagro-te enfim, deus de todos os nomes e credos, todos os seres do universo que, não sendo humanos, são minha família também. Toda a natureza viva e inanimada, todo o visível e invisível, o imenso existente e o muito mais que há de existir. Quem dera saibamos, todos juntos, construir e preservar a harmonia cósmica por ti sonhada. Pois tudo vem de ti e a ti regressa.

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