domingo, 3 de maio de 2015

Texto quadragésimo segundo

A primeira vez sem ti.
Um regresso aos lugares da infância, viagem de retorno ao sepulcro das memórias que não é possível exumar. A vida empurra-nos, o vento que nos sopra nas costas desloca-nos sem retorno, varre as pegadas da dor e do júbilo, bafeja-nos de uma resignação conformada ao vendaval das poeiras.
A primeira vez sem ti.
Há uma lonjura de álbum de recordações nas imagens que me chegam do passado contigo. Há uma injustiça nesta distância, uma abdicação nesta injustiça, um alívio nesta abdicação. E um remorso neste alívio.  
A primeira vez sem ti.
Os tempos vividos embalaram-se nos afetos navegados, amargaram nos desentendidos naufrágios, souberam a pouco nas ilusões ancoradas. Na nitidez do olhar à distância fica uma nostalgia triste do que poderia ter sido, a saudade enorme de um futuro impossível. A vida empurra-nos, o tempo e o espaço constrangem-nos, a memória denuncia-nos e a consciência condena-nos. Haverá um perdão que nos redima?...
Dia da Mãe. A primeira vez sem ti.

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