domingo, 15 de fevereiro de 2015

Texto trigésimo nono

Todas as vezes que escrevo, é um outro que me escreve. Não sei se o liberto no ato de escrever, se apenas o constranjo a debater a sua ânsia de liberdade na escrita em que choca debalde contra as paredes de mim, forradas por dentro de inconsequência.
Sou uma ausência de ser, quando escrevo, uma possibilidade não concretizável, um desejo sem coragem. Ele, em mim, é nesses momentos a presença de não-ser, a impossibilidade concretizada, a coragem que não deseja.
Libertamo-nos ambos na força com que estamos irremediavelmente presos um ao outro. Prendemo-nos mutuamente neste ato da escrita que descontroladamente nos liberta.
Somos dois no um-só em que existimos.

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