segunda-feira, 17 de março de 2014

Conversando... sobre os Festivais (2)

Recordo aqui um tempo em que concorrer ao Festival RTP da Canção não era uma tentativa de fabricar uma suposta canção de sucesso, na expectativa (inútil miragem!...) de vencer ou obter uma boa classificação no Eurofestival.

Nesses anos, concorrer ao Festival RTP da Canção era uma oportunidade de enriquecer o património musical português com criações inspiradas e laboriosas. Pegando na História que nos dizia. Em busca de uma originalidade que nos refizesse.

"Os Lobos e Ninguém" ficou em 5º lugar no Festival RTP de 1976. Num ano em que todas as canções finalistas eram excelentes, esta, composta e escrita por José Luís Tinoco, é um objeto artístico sublime: a força e coragem da música, sem medo de não ser "festivaleira" (o que é isso, afinal?...); a elaboração e profundidade da letra, exorcizando o nosso passado recente com uma raiva libertadora.

E a interpretação de Carlos do Carmo, meu Deus! Quando voltaremos a ter um Festival a este nível?...



2 comentários:

  1. Muitas músicas que foram levadas ao eurofestival da canção são de enorme qualidade, mas creio que existiu e ainda existe uma insistência em demasia em levar músicas que falem sobre a história de Portugal aos Eurofestivais.

    A história de Portugal é muito rica mas também creio que se poderá projetar o futuro.

    Ademais, é tudo cantado em português e isso retira-nos não só a possibilidade de vencer o eurofestival como também de todos os estrangeiros perceberem a mensagem.

    Cumprimentos Professor

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    1. Obrigado pelo comentário!
      A questão, quanto a mim, é precisamente que o foco da nossa participação no Eurofestival não deve ser a tentativa de ganhar, mas a possibilidade de afirmar a nossa existência e a nossa identidade. Claro que isso pode fazer-se com canções que projetem o futuro e não tem que ser apenas com evocações históricas. A identidade histórica deve funcionar como referência para a criação artística, para definir um estilo próprio, para nos fazer diferentes.
      Eu, que sou pouco competitivo, acho que vale a pena apostar em boas canções, que mostrem a riqueza do que somos, mesmo que saibamos que nunca ganharão.

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