De pé, virados para o fundo negro e de costas para
tudo, eles conseguiam ouvir o silêncio. Nas respirações cadenciadas, no
relaxamento dos corpos, no esvaziamento das mentes. Concentração. Atenção,
dentro deles, a tudo o que acontecia fora.
Uma porta abrindo-se, vozes entrando, o mundo
exterior derramando-se numa enxurrada de veludo para as cadeiras à espera. E,
depois das ondulações, novamente o silêncio, uma tranquilidade orquestrada.
E o tempo implodiu num escuro total. Breves
segundos em que eles viveram, cada um no seu íntimo, tudo o que iriam fazer nos
três quartos de hora seguintes. A extraordinária capacidade humana de
concentrar a duração, de eternizar o instante. De viver intensamente.
Logo a seguir, a luz. O foco, suspenso do teto como
uma lanterna mágica. O brilho derramado nas costas deles como um calor
aconchegante. E uma força indizível a apoderá-los, a torná-los maiores. Transcendência.
Viram-se uns aos outros sem se olharem. Lentamente,
deram meia volta, encararam a luz, enfrentaram a admiração do mundo com a
convicção dos frágeis, com a humildade dos vencedores.
Avançaram um passo, unidos numa única respiração. Ele
baixou-se, pegou na placa negra. Os outros esperaram.
A peça começou.
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