domingo, 28 de outubro de 2018

Texto nonagésimo terceiro


Escrever, escrever, escrever… porque só assim se aprende a escrever melhor. Trabalhar a escrita incessantemente, carpinteirar a matéria-prima das ideias com as ferramentas da técnica, fazer brotar a inspiração e esgotar a transpiração.
E insistir na escrita.
Escrever, escrever, escrever… porque só assim se aprende a escrever melhor.
Escreve-se como se vive: gasta-se tudo em cada coisa, a energia toda em cada ação ou encadeamento, o léxico inteiro em cada frase ou sequência delas. E, como na vida, ganha-se no retorno, acrescenta-se o que somos na proporção do que nos damos, cresce a qualidade da escrita na prodigalidade com que nos esgotamos no seu exercício.
E insiste-se na escrita. Reinveste-se o capital acumulado.
Escrever, escrever, escrever… porque só assim se aprende a escrever melhor!
É este o desafio da «Oficina da Palavra», o curso de escrita criativa onde estarei para orientar e acompanhar, partilhar o que sei e aprender tudo o resto.
E insistir na escrita, sempre. Dizer-me todo em palavras, buscando a Palavra que enfim me diga.
Escrever, escrever, escrever… porque só assim se aprende a escrever melhor!
Vamos a isso?...

domingo, 14 de outubro de 2018

Dizer a imagem 15 - Um ano depois



Cristalizadas na ferrugem, as lágrimas acordam. O ferro indestrutível diz a dor que não se apaga. A destruição voraz faz-se recordar, teimosa no monumento triunfante, implacável no vestígio da tortura. E todas as vidas decapitadas sangram-nos ainda no inferno das consciências.
Mas, do silêncio da terra, uma frescura reverdece. No ventre primordial germina uma ressurreição obstinada. A Vida declara-se, colora os escombros, envolve o ícone de morte numa moldura de recomeço. E a memória da centelha devoradora tem de conviver com a visão do arbusto da promessa, sarça ardente profética.
O mundo não é uma sala de espera terminal, mas uma planície de esperança (re)construída. Um ano depois, a Vida continua!

Fotografia de @placeswithlovee