Neste final de ano, partilho duas magníficas canções daquele que considero o maior representante da verdadeira música portuguesa.
Que o modo genuíno e profundo como Fausto nos diz em toda a nossa grandeza e fragilidade nos inspire a sermos mais portugueses e mais alegres neste país cada vez mais triste e cada vez menos nosso.
Feliz Ano Novo! Feliz Portugal!
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
domingo, 28 de dezembro de 2014
Texto trigésimo sétimo
Teatro.
Observar e observar-se no conflito diário das
vontades entrechocadas, atravessar o tiroteio das paixões para que nunca se
está preparado. Apesar dos ensaios. E sofrer com isso.
Teatro.
Ter a coragem de deixar-se observar, para que o
público se veja a si mesmo. Sentir para dar a sentir o que se sente, comunicar
para absorver, partilhar para encher-se, esgotar-se numa doação que busca a
plenitude. E gostar disso.
Teatro.
A construção de uma realidade teatral, verdade
possível nas mentiras de que se é capaz. Não há exibição, apenas a confissão
humilde de quem vê a vida de outra forma. E sofre com isso. E gosta. Não de
sofrer, mas disso.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
Feliz Natal!
Natal.
Festa do Encontro.
Encontro de Deus com o homem.
Encontro do homem com o divino em si.
Encontro do homem com o Outro, divinização da sua precária existência.
Origem e destino. Sentido. Transcendência.
Feliz Natal!
Festa do Encontro.
Encontro de Deus com o homem.
Encontro do homem com o divino em si.
Encontro do homem com o Outro, divinização da sua precária existência.
Origem e destino. Sentido. Transcendência.
Feliz Natal!
sábado, 20 de dezembro de 2014
Texto trigésimo sexto
Escrevi
O Poder e o Desejo em busca da
Palavra. Não por tê-la encontrado e pretender traduzi-la, verter o seu bálsamo
purificador em qualquer suposta ânfora das urgências da atualidade. Antes como uma
procura primigénia: perseguir uma origem como quem vasculha nos astros a
leitura de um rumo; alinhar as frases no gesto de deitar os pés ao caminho. À
procura de um ponto de partida. A Palavra.
Fui
ao encontro de um profeta ultrapassado pela verdade que o habita; esbarrei
contra um pretenso soberano reduzido pelo poder do desejo; vi desabrochar a
malícia numa virgem inocente, rendida ao desejo de poder.
Escrevi
à procura; não sei o que encontrei. Estruturei uma tragédia: prólogo, párodo,
alternância de episódios e estásimos, êxodo a concluir. Deixando em aberto. A
vida humana caminha no escuro, por isso é tragédia. Irreversível nos atos, que
não podem reparar-se sem contrição. Por isso é tragédia. No caminho escuro dos
atos irreversíveis, necessitamos da profecia, de alguém que nos traga a
Palavra. E que deixe em aberto.
Escrevi
O Poder e o Desejo em busca da
Palavra. Não sei o que encontrei. Entreguei o texto sem consumar a procura.
Passei o testemunho aos atores, para que eles vão mais longe. E o transmitam ao
público.
O Poder e o Desejo.
À procura de um ponto de partida. A busca continua.
Ensaio:
(Fotografias de Jorge Figueiredo no ensaio de O Poder e o Desejo)
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
Texto trigésimo quinto
A vida no teatro.
Desejar. Ter medo. Avançar sem medo. Avançar contra
o medo e apesar dele. Vencer o atrito do palco, suportar o flagelo das luzes,
emergir da avalanche dos olhares. Enfrentar a própria pequenez, projetado numa
grandeza maior. Transcendente.
A vida no teatro.
Estar preparado. Preparar-se. Treinar o desejo para
mais desejar o transcendente. O bom ator não improvisa porque está preparado. E
improvisa porque está preparado. Tudo é espontâneo, nada é casual. Os ensaios
preparam para tudo, se soubermos preparar-nos para eles.
A vida no teatro: preparar-se para ensaiar, ensaiar
para estar preparado. Desejar o transcendente e, por isso, transcender-se
imparavelmente em desejo. O melhor ator não é o mais talentoso; é, antes, o
mais bem preparado. E o mais insatisfeito.
Preparativos:
Aquecimento:
Ensaio:
(Fotografias de Jorge Figueiredo, no ensaio de O Poder e o Desejo)
sábado, 6 de dezembro de 2014
Texto trigésimo quarto
Teatro.
Escrever um texto dramático é buscar a Palavra,
reduzi-la a palavras sepultadas no leito da escrita, esperar os corpos e as
vozes que as ressuscitem. É um esforço lacunar, a noção humilde de ser o elo
primário de uma cadeia transcendente, de cujo sortilégio poderá resultar a obra
de arte. É forjar, com as ferramentas da escrita, uma matéria-prima, rude
minério que valha a pena ofertar à alquimia do palco, onde, vertido em oiro,
deixe de pertencer a quem o dá, sem que chegue a ser possuído por quem o
recebe.
Teatro.
Representar uma peça de teatro é aceitar o
sacerdócio de um rito onde se permanecerá sempre aprendiz. É irradiar uma força
que se encontra no íntimo, oriunda de algo maior, distante para dentro,
inacessível na sua plenitude. É expor-se, corpo presente aos olhares, espírito
nos antípodas da exibição. É assumir-se na verdade possível, para assim poder exprimir,
numa liturgia de vivificação, as palavras adormecidas que buscam dizer a
Palavra.
Teatro.
Assistir a uma peça de teatro é comungar do
processo criativo, receber o tesouro de mãos abertas, cerrar os punhos na dor
do entendimento feliz que ele suscita, estender os braços na partilha urgente a
que ele impele. Nenhuma outra arte espelha a vida tão cruelmente, nenhuma a
transmite de modo tão inexorável. Porque ela própria é vida: gerada na ideia
que lhe é alma, consubstanciada no texto que lhe é matéria, existente na
duração do trabalho dos atores que lhe é história. E, findo o seu tempo, herdada
na memória de cada espetador que lhe é sucessão.
Teatro. O Poder
e o Desejo.
Em janeiro de 2015, a possibilidade de reunir
autor, atores e espetadores. E fazer acontecer vida.
Vai valer a pena!
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