Escrevi
O Poder e o Desejo em busca da
Palavra. Não por tê-la encontrado e pretender traduzi-la, verter o seu bálsamo
purificador em qualquer suposta ânfora das urgências da atualidade. Antes como uma
procura primigénia: perseguir uma origem como quem vasculha nos astros a
leitura de um rumo; alinhar as frases no gesto de deitar os pés ao caminho. À
procura de um ponto de partida. A Palavra.
Fui
ao encontro de um profeta ultrapassado pela verdade que o habita; esbarrei
contra um pretenso soberano reduzido pelo poder do desejo; vi desabrochar a
malícia numa virgem inocente, rendida ao desejo de poder.
Escrevi
à procura; não sei o que encontrei. Estruturei uma tragédia: prólogo, párodo,
alternância de episódios e estásimos, êxodo a concluir. Deixando em aberto. A
vida humana caminha no escuro, por isso é tragédia. Irreversível nos atos, que
não podem reparar-se sem contrição. Por isso é tragédia. No caminho escuro dos
atos irreversíveis, necessitamos da profecia, de alguém que nos traga a
Palavra. E que deixe em aberto.
Escrevi
O Poder e o Desejo em busca da
Palavra. Não sei o que encontrei. Entreguei o texto sem consumar a procura.
Passei o testemunho aos atores, para que eles vão mais longe. E o transmitam ao
público.
O Poder e o Desejo.
À procura de um ponto de partida. A busca continua.
Ensaio:
(Fotografias de Jorge Figueiredo no ensaio de O Poder e o Desejo)
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