Teatro.
Escrever um texto dramático é buscar a Palavra,
reduzi-la a palavras sepultadas no leito da escrita, esperar os corpos e as
vozes que as ressuscitem. É um esforço lacunar, a noção humilde de ser o elo
primário de uma cadeia transcendente, de cujo sortilégio poderá resultar a obra
de arte. É forjar, com as ferramentas da escrita, uma matéria-prima, rude
minério que valha a pena ofertar à alquimia do palco, onde, vertido em oiro,
deixe de pertencer a quem o dá, sem que chegue a ser possuído por quem o
recebe.
Teatro.
Representar uma peça de teatro é aceitar o
sacerdócio de um rito onde se permanecerá sempre aprendiz. É irradiar uma força
que se encontra no íntimo, oriunda de algo maior, distante para dentro,
inacessível na sua plenitude. É expor-se, corpo presente aos olhares, espírito
nos antípodas da exibição. É assumir-se na verdade possível, para assim poder exprimir,
numa liturgia de vivificação, as palavras adormecidas que buscam dizer a
Palavra.
Teatro.
Assistir a uma peça de teatro é comungar do
processo criativo, receber o tesouro de mãos abertas, cerrar os punhos na dor
do entendimento feliz que ele suscita, estender os braços na partilha urgente a
que ele impele. Nenhuma outra arte espelha a vida tão cruelmente, nenhuma a
transmite de modo tão inexorável. Porque ela própria é vida: gerada na ideia
que lhe é alma, consubstanciada no texto que lhe é matéria, existente na
duração do trabalho dos atores que lhe é história. E, findo o seu tempo, herdada
na memória de cada espetador que lhe é sucessão.
Teatro. O Poder
e o Desejo.
Em janeiro de 2015, a possibilidade de reunir
autor, atores e espetadores. E fazer acontecer vida.
Vai valer a pena!
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