Que
dirá de mim a mediocridade futura? Que desculpas ou hipocrisias saberá inventar
para que me não reconheçam inteiro como sou, humano mais que os homens, divino
acima de todas as ideias de deuses?
A vulgaridade em que os homens se confortam há de
rastejar-me na lama das dúvidas sobre mim, há de chafurdar na baixeza de
suspender-me num ignóbil cadafalso de doutas investigações sobre a minha
identidade, sobre o gesto autêntico da mão que segura a pena que traça o
inatingível desenho dos meus versos. A banalidade que nada sabe afirmar há de
contorcer-se em interrogações sobre a incompreensão do que a transcende. E
ignorará teimosamente que o transcendente não pede compreensão, só
deslumbramento.
Que dirá de mim a mediocridade futura? Que
necessidade terá de dizer seja o que for, quando tudo o que peço aos homens é
que me leiam na língua que fabriquei e nas outras todas a que hão de reduzir-me,
que me escutem nas vozes treinadas de todos os que aprenderão a viajar ao mais
fundo de si para me dizerem e nas vozes menos treinadas de todos os outros que
me dirão toscamente, na simplicidade grandiosa de entenderem que também sou
para eles? Sobretudo para eles.
Que dirá de mim a mediocridade futura? Que me
importa isso, afinal? É por causa dela que eu sou. Porque não a sou. Para resgatar
o seu corpo flácido embrulhado no abrigo de mesquinhez e vileza que construiu
por não saber mais sobre si e por ignorar que não sabe. Para semear em tiradas
e versos a esperança de que, um dia, as suas mãos inertes ganhem coragem para abrir
o livro da vida e libertar a grandeza sepultada nos recônditos do corpo flácido
embrulhado.
Então, a mediocridade futura permanecerá. E continuará
a dizer de mim, a condenar-me na baixeza das dúvidas argumentadas. Porém, já
não poderá ignorar o deslumbramento de saber que a transcendência que ela teme,
porque a desnuda, existe no íntimo do corpo flácido. E revelou-se um dia na
História. E teve um nome. O meu.
William.
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