domingo, 10 de abril de 2016

Texto sexagésimo primeiro

Fahrenheit 451, de Ray Bradbury: o livro que todo o escritor tem de ler. Porque é sobre os livros e o seu poder e a sua necessidade. Sobre o poder da necessidade dos livros. E porque é sobre os homens.
Fahrenheit 451: a temperatura de combustão do papel. O furor incendiário revela o modo cobarde como os homens exercem violência prepotente (terrorista?) contra tudo o que os assusta ou ameaça. Ou suplanta. Queimar os livros é reconhecer a própria pequenez perante o poder criador da Palavra. Memorizar os livros queimados é tornar-se portador de uma grandeza maior, é elevar-se à categoria de re-criador por meio da Palavra.
Fahrenheit 451: o valor da Palavra na escrita das palavras. E na memória delas.
Eis um excerto da parte final deste livro magnífico, do discurso de Granger, o líder dos «loucos» memorizadores de livros:

«Não és importante. Não és nada. Um dia o fardo que transportamos talvez ajude alguém. Mas, mesmo quando tivemos os livros na mão, há muitos anos, não nos servimos daquilo que tirámos deles. Desatámos a insultar os mortos. Desatámos a cuspir nas campas dos desgraçados que morreram antes de nós. Vamos encontrar muitas pessoas sós na próxima semana e no próximo mês e no próximo ano. E, quando nos perguntarem o que estamos a fazer, podemos dizer: “Estamos a recordar.” É tudo o que ganharemos a longo prazo. E um dia recordar-nos-emos de tantas coisas que construiremos a maior escavadora a vapor da História e abriremos a maior sepultura de todos os tempos e empurraremos lá para dentro a guerra e tapá-la-emos. Venham, em primeiro lugar construiremos uma fábrica de espelhos e produziremos apenas espelhos durante o próximo ano e olharemos longamente para eles.»


Sem comentários:

Enviar um comentário