Fahrenheit
451, de Ray Bradbury: o livro que todo o escritor tem
de ler. Porque é sobre os livros e o seu poder e a sua necessidade. Sobre o
poder da necessidade dos livros. E porque é sobre os homens.
Fahrenheit
451: a temperatura de combustão do papel. O furor
incendiário revela o modo cobarde como os homens exercem violência prepotente
(terrorista?) contra tudo o que os assusta ou ameaça. Ou suplanta. Queimar os
livros é reconhecer a própria pequenez perante o poder criador da Palavra.
Memorizar os livros queimados é tornar-se portador de uma grandeza maior, é
elevar-se à categoria de re-criador por meio da Palavra.
Fahrenheit
451: o valor da Palavra na escrita das palavras. E na
memória delas.
Eis um excerto da parte final deste livro magnífico,
do discurso de Granger, o líder dos «loucos» memorizadores de livros:
«Não és importante. Não és nada. Um dia o fardo que
transportamos talvez ajude alguém. Mas, mesmo quando tivemos os livros na mão,
há muitos anos, não nos servimos daquilo que tirámos deles. Desatámos a
insultar os mortos. Desatámos a cuspir nas campas dos desgraçados que morreram
antes de nós. Vamos encontrar muitas pessoas sós na próxima semana e no próximo
mês e no próximo ano. E, quando nos perguntarem o que estamos a fazer, podemos
dizer: “Estamos a recordar.” É tudo o que ganharemos a longo prazo. E um dia
recordar-nos-emos de tantas coisas que construiremos a maior escavadora a vapor
da História e abriremos a maior sepultura de todos os tempos e empurraremos lá
para dentro a guerra e tapá-la-emos. Venham, em primeiro lugar construiremos
uma fábrica de espelhos e produziremos apenas espelhos durante o próximo ano e
olharemos longamente para eles.»
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