O
espaço vazio, como expetativas goradas. O chão cinzento e mole, como tíbias
hesitações. As paredes convergentes e estreitas, como frias censuras. Os diálogos
ritmados e certeiros, como marteladas remordidas.
E
depois o silêncio.
Três
atores. Três corpos que encarnam várias personagens, três almas que se
desdobram em múltiplas facetas delas mesmas. Três consciências que ousadamente
se fragmentam na busca de si próprias. E de nós. De si próprias em nós. De nós
em si próprias.
E
depois o silêncio.
Um
silêncio que nos pesa durante o jogo de espelhos a que esta peça nos submete. O
texto de Arne Lygre entra por nós adentro, porque sentimos que é de nós que ele
brota. Incómodo. Triturador. A encenação de Álvaro Correia despe-nos diante do
espelho na forma como se minimiza para nos expor às verdades do texto. Os atores
aproximam-se da perfeição na expressão das contradições do ser humano:
imaculados na sujidade cinzenta das vestes, próximos na intangibilidade da
distância promíscua a que se colocam, perdidos no rigor geométrico dos
movimentos que executam, controlados na livre aparente espontaneidade com que
soltam o texto. (Que grato prazer, o de rever a intensidade focada de David
Esteves e a transbordante versatilidade de João Cachola! E que agradável
surpresa, a de conhecer a força disciplinada e expressiva de Vicente
Wallenstein!)
E
depois o silêncio. O tesouro que trazemos connosco, após o espetáculo. A vontade
de partilhá-lo.
Sem comentários:
Enviar um comentário