sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Teatro: «Depois o silêncio»

Depois o Silêncio
O espaço vazio, como expetativas goradas. O chão cinzento e mole, como tíbias hesitações. As paredes convergentes e estreitas, como frias censuras. Os diálogos ritmados e certeiros, como marteladas remordidas.
E depois o silêncio.
Três atores. Três corpos que encarnam várias personagens, três almas que se desdobram em múltiplas facetas delas mesmas. Três consciências que ousadamente se fragmentam na busca de si próprias. E de nós. De si próprias em nós. De nós em si próprias.
E depois o silêncio.
Um silêncio que nos pesa durante o jogo de espelhos a que esta peça nos submete. O texto de Arne Lygre entra por nós adentro, porque sentimos que é de nós que ele brota. Incómodo. Triturador. A encenação de Álvaro Correia despe-nos diante do espelho na forma como se minimiza para nos expor às verdades do texto. Os atores aproximam-se da perfeição na expressão das contradições do ser humano: imaculados na sujidade cinzenta das vestes, próximos na intangibilidade da distância promíscua a que se colocam, perdidos no rigor geométrico dos movimentos que executam, controlados na livre aparente espontaneidade com que soltam o texto. (Que grato prazer, o de rever a intensidade focada de David Esteves e a transbordante versatilidade de João Cachola! E que agradável surpresa, a de conhecer a força disciplinada e expressiva de Vicente Wallenstein!)
E depois o silêncio. O tesouro que trazemos connosco, após o espetáculo. A vontade de partilhá-lo.

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