Relógio.
Os
elos desfocados da retorcida corrente são impotentes para ofuscar o brilho do
mostrador barroco. Barroco na excessiva ornamentação do seu espelho, no
rendilhado da moldura que encaixa o vidro como vitrina. Barroco no tenebrismo de
onde surde todo o precioso conjunto, irradiando um fulgor matemático de contagem.
Relógio.
São
barrocas também as palavras que dizem o delicado objeto, como é barroco o tempo
que ele nos diz: um rigor medido em ponteiros giratórios sobre um círculo de
marcas, uma aparência deslizante mascarando um sobressalto de entranhas. Um assomo
de ordem sobre a bruma dos mistérios do ser.
Relógio.
Um
mecanismo de intenções exposto na arte de um mostrador. E os ponteiros
inexoráveis: o que somos do que já não, o que sonhamos no que ainda talvez. Existência
e essência. Tudo.
Num
relógio.
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