Ainda a propósito do
450º aniversário do nascimento do grande escritor e homem de teatro, não posso
deixar de prestar-lhe a minha homenagem e exprimir a minha admiração pela
magnífica obra que ele nos legou. O modo como soube aproveitar os recursos da
sua língua – e a capacidade de reinventá-la – para expressar tudo o que há de
mais profundo e intemporal no ser humano; o modo como se inspirou em tradições
e lendas conhecidas para nos transmitir a essência oculta da humanidade – do
sublime ao mais negro; o modo como, enfim, plasmou tudo o que nos quis dizer
numa escrita simultaneamente densa e aberta, suscetível de todo o tipo de
apropriações, traduções, versões e interpretações, sem nunca perder a sua
verdade essencial: tudo isso supera absolutamente o que estas minhas impotentes
palavras tentam dizer.
A literatura, a
escrita teatral, o próprio teatro não seriam decerto o que hoje são sem o
contributo esmagador de William Shakespeare. A ilustrá-lo, partilho aqui um
excerto de Hamlet (Ato IV, Cena 4)
que aprecio particularmente. Para saborear na
versão original.
«HAMLET
[…] What is a
man,
If his chief good
and market of his time
Be but to sleep
and feed? a beast, no more:
Sure he that made
us with such large discourse,
Looking before
and after, gave us not
That capability
and god-like reason
To fust in us
unused. Now, whether it be
Bestial oblivion,
or some craven scruple
Of thinking too
precisely on th’event –
A thought which
quartered hath but one part wisdom,
And ever three
parts coward – I do not know
Why yet I live to
say “This thing’s to do,”
Sith I have
cause, and will, and strength, and means,
To do’t… Examples
gross as earth exhort me.
Witness this army
of such mass and charge,
Led by a delicate
and tender prince,
Whose spirit with
divine ambition puffed
Makes mouths at
the invisible event,
Exposing what is
mortal and unsure
To all that
fortune, death and danger dare,
Even for an
egg-shell… Rightly to be great
Is not to stir
without great argument,
But greatly to
find quarrel in a straw
When honour’s at
the stake. […]»
William Shakespeare, Hamlet, Act IV, 4.
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