Ainda
me lembro do balanço acelerado, a vertigem de vermelho. Foram tempos de aventura
sem planos, de abrir caminhos na aridez deserta, de arriscar o futuro no desdém
das heranças, de reduzir a escombros para esculpir nas pedras. De geração no
caos.
Ainda
me lembro de ouvir dizer o medo da vertigem, de tropeçar no eco das profecias do
fim da aventura. Que a bagagem das ideias seria largada como lastro incómodo à
medida que escasseasse a energia combustível, num avanço cada vez mais lento
face à inércia de tudo. Cedência gelatinosa à sedução dos interesses.
Ainda
me lembro daquilo que já só resta lembrar. Neste vermelho desbotado,
desacreditado, imobilizado na mata seca, degeneração de uma prosperidade
efémera, as casas que se erguem mais à frente são muros que aprisionam,
vigilantes na distância. Para que o bosque não possa estender-se em sinfonia
frondosa, antes esbarre na falácia das árvores cuja sombra não chega para
todos.
E,
mais além, o céu azul. Inatingível.
Liberdade.
Ainda
me lembro.
(Fotografia de Jorge Figueiredo)
Lembrar das esperanças e expetativas daquele dia é o que mais dói. Resta apenas a página arrancada chamada LIBERDADE, do livro que ainda não foi escrito
ResponderEliminarObrigado pelo comentário.
EliminarVamos tentando escrever na nossa vida, a partir do que somos. A verdadeira revolução começa no sentido da existência de cada um de nós.
Acho que há muita gente com responsabilidades que não transporta nenhuma revolução dentro de si. Por isso não consegue escrever LIBERDADE...