O pior de tudo é a espera. Ou antes: a
demora que ela contém. Não me custa o passar do tempo em si mesmo, compreendo a
necessidade de aguardar a ocasião certa, o sentido de uma ordem na qual cada
coisa acontece por sua vez. Porém, esta espera, este prolongamento de uma
duração anterior ao que está para ser feito, apenas aumenta a expetativa,
desenvolve uma antecipação fantasmagórica e impotente, amplifica o nervosismo
ou instala-o onde ele não existe.
Estou aqui parado desde que saí do
espaço da sala. Emparedado na estreiteza deste corredor, faço-me desaparecer na
escuridão apenas devassada pela luz que vem da porta, o único acesso de
entrada. Há pouco, quando a transpus e mergulhei na obscuridade deste corredor,
cruzei-me com ela, ou melhor, passei pelo seu vulto imóvel que pareceu nem se aperceber
da minha presença. De olhos fechados, estava completamente voltada para dentro,
como se nada nem ninguém mais existisse, como se quisesse negar qualquer
existência exterior a ela, potencial ameaça para a sua fragilidade.
Fragilidade. Repito mentalmente esta palavra: fragilidade. Associo-a à imagem
que me ficou dela, de olhos fechados para dentro, no corredor escuro. Preciso
desta associação. Daqui a pouco, quando a enfrentar, é fragilidade o que tenho
de ver diante de mim, o que tenho de reconhecer nela. É sobre a sua fragilidade
que tenho de afirmar a minha força, é contra ela que tenho de investir. Para
esmagá-la, liquidá-la. É esse, apenas esse, o objetivo que devo ter em mente.
Nada poderá distrair-me, não devo permiti-lo.
Aqui, imobilizado neste corredor
escuro, impossibilitado de realizar qualquer movimento que me denuncie no
tilintar dos aros desta corrente que se prende às minhas pernas e, juntamente
com as algemas que me amarram as mãos, simboliza a prisão desta condenação onde
cumpro a expiação da minha maldade, aguardo. Entretenho, nesta escuridão
calada, os longos minutos que me separam do regresso à sala onde poderei falar,
responder às perguntas dela sob a luz branca e insistente. O pior de tudo é a espera.
Ou antes: a demora que ela contém. Esta inatividade forçada que nos sujeita às
tentações da imaginação fugitiva.
Não quero fugir. Não quero afastar-me
de mim, aqui, do meu corpo amarrado na solidão deste corredor escuro, do meu
espírito tolhido pelas cadeias de uma culpa de que não quer libertar-se. Não
quero imaginar, não posso ceder à imaginação, esse radar infinito que consegue
desenhar as órbitas invisíveis de tudo o que vagueia no espaço insondável da
nossa inconsciência. Tenho de concentrar-me na minha realidade, aqui e agora,
neste corredor de uma espera exígua e sem luz. Sou o Adolfo e quero estar
preso. Sou uma personificação de crueldade anestesiada por algemas, a maldade à
solta num corpo amarrado. Sou o Adolfo e quero estar preso. Por causa dela.
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