Escrever. Resolver uma necessidade interior. Tornar
visível um segredo. Ou antes, um mistério. Mais que um mistério, uma
inquietude. Mais que uma inquietude, um anseio. Mais que um anseio, um ai.
Escrever. Resolver uma necessidade interior. Soltar
uma voz, dar forma de palavras a um grito. Um rugido sufocado, os sonhos todos
cá de dentro reprimidos na gaguez lacrimosa desta impotência humana de
dizê-los. Pequena demais, a natureza humana. Cala as vozes mais íntimas em nome
de princípios de realidade inventados, ao mesmo tempo que fecha os olhos ao
mundo numa redução fenomenológica que a encerra na jaula dum quotidiano
urgente.
Escrever. Resolver uma necessidade interior. Deixar-me
ser, viver o outro que o habita, conceder-me a liberdade que a si próprio
recusa. Assumir-me, permitir-me ser-lhe voz na forma de palavras e revelar o
segredo, desvelar o mistério, aliviar a inquietude, partilhar o anseio. Pelo
menos, em parte: soltar um ai.
Escrever. Soltar um ai. Abrir uma fenda na muralha
e respirar. Ser eu na impotência humana dele. Resolver uma necessidade
interior.
E quando a escrita se torna necessidade interior a criatividade acontece...
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