Ver-te adulto no espaço vazio é o prolongamento
natural de ter-te recém-nascido nos meus braços cheios. Estremece-me a alma na
contemplação desta libertação do teu talento maduro que me envolve no aconchego
com que te prendo às noites de menino. Nos sentimentos de alegria e dor que
agora interpretas na distância de palavras de outra língua está o olhar
sonhador de há anos, quando, bem próximo, declaraste sem palavras que ias
partir e ainda não sabias que irias partir.
Ver-te adulto no espaço vazio é o prolongamento
natural de ter-te recém-nascido nos meus braços cheios. Na segura eloquência da
energia que irradias vejo desvendar-se o mistério que contemplo no silêncio
custódio de proteger-te a infância frágil. E orgulho-me de comover-me por
sentir que é a tua força que me protege da fragilidade de envelhecer e
desistir.
O tempo corre, a vida é inteira. Ligamo-nos hoje
pelo ontem que aqui nos trouxe, soltamo-nos no amanhã que somos desde sempre. O
tempo corre, a vida é inteira. Ver-te adulto no espaço vazio é o prolongamento
natural de ter-te recém-nascido nos meus braços cheios. Somos o que fomos,
estamos no que somos. E iremos para onde.
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