Aquilino Ribeiro.
Nasceu
em 13 de setembro de 1885. É um dos nomes maiores da literatura portuguesa,
embora (que eu saiba!...) nenhum currículo escolar o mencione. Trabalhou as
letras como uma lavoura artesanal: semeando imagens, enxertando regionalismos,
podando a sintaxe e colhendo inovações semânticas. Elevou o elemento rústico da
língua portuguesa a um estatuto de obra de arte. E disse-nos como ninguém.
Posso
afirmar que a minha escrita cresceu no deslumbramento da sua, a consciência da
minha pequenez formou-se na contemplação da sua grandeza.
Em
jeito de homenagem, deixo aqui a primeira citação que me lembrei de procurar
(terá sido a primeira leitura que fiz dele?...): os parágrafos iniciais da
novela O Malhadinhas. Para ler e
saborear (e admirar a atualidade).
Quando comecei a pôr vulto no
mundo, meus fidalgos, era a porca da vida outra droga. Todas as semanas
contavam dias de guarda e, por cada dia de guarda, armava-se o saricoté nos
terreiros. Não andaria Nosso Senhor de terra em terra – eu cá nunca me avistei
com ele – mas a verdade é que a neve vinha com os Santos e as cerejas quando
largam do ovo os perdigotos. Bebia-se o briol por canadões de pau até que
bonda. Um homem mesmo com os dias cheios tinha pena de morrer.
Não tenho cataratas nos olhos,
ainda que me hajam rodado sobre o cadáver quase dois carros de anos, mas os
dias de hoje não os conheço. Ponho-me a cismar e não os conheço. E, quanto mais
cismo, mais dou razão ao Miguelão da Cabeça da Ponte, que falava como livro
aberto, o grande bruxo. Muitas vezes lhe ouvi dizer quando estava de boa lua, o
que nem sempre assucedia:
─ Tempos virão em que o governarão
as terras vãs e os filhos das barregãs.
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