domingo, 30 de agosto de 2015

Texto quadragésimo nono

Não são muitas as recordações que ele conserva da escola primária. Aqueles anos decorreram com a fluidez insensível de uma realidade estática, uma espécie de presente compacto que não se sente avançar, qualquer coisa como uma eternidade confortável. Foi um tempo em que ele não se preocupou com o que ficava para trás ou com o que poderia estar para vir. Se permanecesse para sempre criança, coisa sobre a qual nunca se interrogou, o externato onde frequentou a escola primária, situado a meio da avenida que partia da igreja onde se perdia do mundo e desembocava na mata onde se reencontrava consigo seria um bom lugar para ser. E nada mais.
Mais tarde ele consideraria aquela fatia de passado como uma das duas fases da sua vida em que valeria a pena o tempo ter parado. Mas isso foi quando já tinham nascido as interrogações, as preferências e as amarguras. Antes tratava-se apenas do presente inquestionável que havia e é por isso que não são muitas as recordações que ele conserva. O armazenamento das lembranças é uma operação que se desenvolve na proporção direta do receio da perda e, então, nada estava perdido. Tudo era, simplesmente.

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