A casa.
Olhou em volta e reconheceu-se em tudo o que via.
Porque toda a casa gritava a presença dos seus ascendentes. Era o seu bisavô
nas traves mestras de madeira centenária; era o seu avô na marcenaria apurada
de todos os móveis; era o seu tio na negligência dos cinzeiros espalhados por
toda a parte, mas também na minuciosa catalogação das chaves de cada um dos
armários e gavetas; e era, sobretudo, o seu pai no desvelo cuidadoso da
preservação daquele mundo, na esquadria funcional da organização do espaço, na
longínqua visão de futuro da conservação do passado. E era também, claro, a sua
mãe na ternura bizarra do amor-ódio com que marcara impressões digitais por
toda a parte.
A casa de família.
Olhou em volta e reconheceu-se em tudo o que via.
Porque toda a casa desembocava nele, havia uma história dele gravada naquilo
tudo. E, mascarada embora pelo moderno reboco das empenas, coberta pela
impecável polidez das telhas recentes, vivia ali uma alma que o habitava.
A casa de família na aldeia.
Olhou em volta e reconheceu-se em tudo o que via. E
percebeu que não podia desfazer-se de si mesmo. E reaprendeu o valor da
História.
Sem comentários:
Enviar um comentário