A escrita é uma superação. A escrita literária é
uma transcendência. Não importa o tema, a literatura é esta forma de sobrevoar
a existência, agarrá-la de cima num arabesco, arrancá-la do solo e espalhá-la pelo
firmamento numa poeira de estrelas, para que ela de novo chova sobre a terra em
gotas de sangue cristalino. E se entranhe e fertilize. E se devolva maior. A
literatura é a existência enriquecida de fantástico.
Em Teu
Ventre é José Luís Peixoto a
ensinar-nos o fantástico. Abordando o tema das aparições de Fátima, relata os
factos sem concluir, descobre mistérios sem dar explicações. A narrativa não
toma partido, porque cada leitor tem direito ao seu próprio fantástico (e à sua
fantasia, que é a redução dele em categorias explicáveis), mas coloca-nos num
fogo cruzado de perspetivas divergentes, uma espécie de forma aberta literária
na qual não podemos permanecer neutros nem acabar onde começámos, talvez assim
tenha acontecido ao autor. A escrita é uma superação.
A escrita literária é uma transcendência. Em Teu Ventre aborda o tema das
aparições de Fátima colocando-o para lá dos factos, no território de mistério
onde ele pode ser debatido. Tal como a nossa vida, afinal o verdadeiro mistério
a que José Luís Peixoto quer chegar. Não importa o tema, a literatura é esta
forma de sobrevoar a existência, agarrá-la de cima num arabesco, arrancá-la do
solo e espalhá-la pelo firmamento numa poeira de estrelas, para que ela de novo
chova sobre a terra em gotas de sangue cristalino. E se entranhe e fertilize. E
se devolva maior.
A literatura é a existência enriquecida de
fantástico. Em Teu Ventre é o
fantástico da existência, uma pérola de literatura.
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