Na cidade dos homens, a maior riqueza é a
diversidade. O logro da globalização é a miragem de um sistema – económico,
cultural, religioso ou de qualquer outro tipo – dominante apenas porque é mais
forte ou abrangente. Urgência, pois, a de lembrar que a mesma globalização
possui virtudes de descoberta e encontro, de aproximação de distâncias e
comunhão de diferenças, de aprendizagem pelo contraste. A riqueza do múltiplo.
Diversidade.
Contexturas cumpre esta urgência. É um manifesto de
diversidade, encontro de distâncias que se acercam, de multiplicidades que se
unem para mutuamente se valorizarem. É uma comunhão nascida da diferença. Uma
viagem de lonjura e regresso, em que formas e cores se deixam dizer em
palavras. Cheira-se um distante calor tropical nas telas de Armanda Alves,
respiram-se aromas de especiaria, escuta-se a vastidão melancólica de planícies
e oceanos e céus. E adivinham-se risos e choros de gentes várias. Esta fulgurante
abstração vem ter connosco na inspiração espontânea e intuitiva – dir-se-ia uma
actionwriting – dos contos de Luísa Fresta. As narrativas mergulham em nós, ou nós nelas, na imediata identificação
das virtudes e vícios de todas as personagens tão próximas, nossas vizinhas por
dentro. Porém, tudo o que nelas é banal se supera na penetrante elevação da
escrita, que bebe da transcendência das telas e nela se projeta novamente. Encontro
de diferenças. A riqueza do múltiplo. Diversidade.
Ainda de livro aberto, na incessante leitura das
buscas em que me perco, fico assim reencontrado nesta encruzilhada,
«contexturizado» entre a transcendência da pintura, a profundidade da escrita e
a prosaica familiaridade das histórias que ambas contam. E, de alguma forma,
cresço na compreensão do ser humano. Acrescento-me na noção de mim mesmo
perante esta obra tão inesperada e diferente.
Contexturas:
uma leitura urgente. Porque, na cidade dos homens, a maior riqueza é a
diversidade.
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