Há circunstâncias em que a vida pára. Suspende-se,
intemporal. Concentra-se toda naquele instante único em que se vive inteira.
Quando nasce um filho, por exemplo. Ou uma filha, neste caso. Quando tu, há
dezanove anos. Não foste a primeira, mas és tão – ou mais – importante por isso
mesmo: és continuidade, renovação e diferença. Trouxeste-nos a noção de que a
vida segue, de que os sonhos não cristalizam nas primeiras metas atingidas, mas
reinventam-se sempre. Reafirmaste em nós a esperança de que tudo pode ser outra
vez outra coisa e mais. Não poderias ser melhor, porque não podes ser outra,
não poderás tornar-te pior, porque és tu mesma. Nasceste. Ocupaste entre nós um
espaço que estava vazio sem que o soubéssemos, preencheste-o de uma forma que
torna a tua ausência inconcebível. Como se sempre tivesses estado aqui. Surgiste
do desejo inefável que nos habitava e deste-nos o tesouro da tua pessoa
incomparável. Para nós, continuas a nascer todos os dias.
Há circunstâncias em que a vida pára. Suspende-se,
intemporal. Concentra-se toda naquele instante único em que se vive inteira. E vale
por isso. Tudo o que escrevi estava naquele momento em que tu, há dezanove
anos. Desde então, continuo a viver esse momento, como uma eternidade estendida
na finitude dos meus dias. Já eras em nós antes de existires e nós permaneceremos
em ti quando já não formos. Porque és nossa filha. Porque tu.
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