Porque olhar-te é gritar o amor que as palavras
falham, ocas demais para a grandeza de que são mensageiras. Não há invólucro
que possa forrar o ilimitado, nem atilho que prenda o eterno num embrulho de
tempo.
Porque ser olhado por ti é sucumbir ao derrame da
insuportável verdade. O imenso fulgor da tua essencial beleza queima a fraqueza
dos meus olhos pedintes, jorra-me em lágrimas de um gozo cego da luz de ti.
Porque acordar ao teu lado é um sobressalto de paz
indizível. É saborosa demais esta identidade de casulo do segredo das
respirações só nossas, do entrelaçamento dos odores indisfarçados, da
epidérmica colagem das emoções trazidas do íntimo.
Porque adormecer contigo é ressurreição em vida. Há
um consolo de subsistência no longo prazer fugaz de largar as pressas e tensões
que me esfaimam em morte quotidiana prolongada, há um mergulho de eternidade no
prolongado instante de relaxamento sem medida em que se transcende a banal
existência enterrada no seu peso numa leveza que a ressurge para um sentido
maior. Talvez único.
Porque és tu.
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