O conto que escrevi para o concurso «Liberdade, Medo e Solidão» (e que será publicado na coletânea Penélope) foi, sobretudo, uma experiência de regresso projetado, uma espécie de revivência, com valor acrescentado, de um tempo de juventude inocente em que eu, descrendo na minha persistência na longa duração da escrita de um romance (que achava que nunca seria capaz de concluir), me refugiava no formato reduzido e, por isso, mais confortável, do conto. Aí treinei sucessivamente a prosa, sempre à procura de um estilo ou, melhor dito, de uma maneira própria de escrever.
Em virtude da esmagadora exigência que sempre apliquei a mim próprio em tudo, nenhuma das tentativas literárias desse tempo sobreviveu ou alcançou forma suficientemente definitiva que merecesse passar o apertado crivo da minha censura e afirmar-se como obra acabada. A minha escrita, treinada no conto, nunca completou nenhum. E depois, o apelo do teatro fez-me descobrir um género onde me concretizei com maior eficácia e, assim, operou na minha escrita um desvio que me afastou diametralmente da prosa narrativa durante vários anos.
Por isso, já «reconciliado» com essa mesma prosa narrativa após a publicação de Nós, Vida, aceitei o desafio de participar neste concurso de contos e lancei-me com redobrado ânimo sobre esse formato da minha escrita de outrora, entretanto abandonado. Fiz-me a ele com a mesma inocência juvenil, mas este regresso levou-me a outro lugar, o passado em que me apoiei empurrou-me para uma novidade de futuro. De facto, nada em mim é já igual ao tempo em que procurava palavras indecisas para dizer o que não sabia. É a mesma, a ternura com que ataco a escrita, é o mesmo respeito, a mesma noção de fragilidade diante do Absoluto, a mesma pequenez das palavras perante a Palavra, o mesmo medo de ficar aquém. Mas passaram alguns anos, pisei vários caminhos em que a vida me pisou e, por isso, são agora mais poderosas as armas, as munições de mais grosso calibre. Ao escrever este conto, senti algo que nunca tinha escrito, escrevi como nunca sentira antes. E percebi uma porta entreaberta, uma inspiração para continuar. O futuro...
Por aquilo que provocou em mim, digo que este conto, a publicar na coletânea Penélope, é uma das melhores coisas que escrevi. Faço votos para que se torne uma boa leitura para os leitores. E que valha a pena!...
Aqui deixo, novamente, a ligação para a plataforma onde poderão apoiar o projeto de lançamento do livro:
http://livrosdeontempt.us5.
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