Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Uma pequena(?) história de insondável profundidade.
Onde o enredo é mera superfície espelhada para um abismo de análise do ser
humano: os sonhos, as inseguranças, as ambições insatisfeitas, os falsos
refúgios, a cobardia das decisões não tomadas, a esterilidade da resignação às
convenções.
Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Lemos o livro e é como se ele nos lesse a nós,
folheamo-lo e ele devora-nos, aponta-nos cruelmente o dedo suave com que
viramos as páginas. Porque nós estamos ali, irreprimivelmente ali, naquelas
personagens intemporais do vitorianismo tardio da Londres dos anos vinte.
Estamos na chama anestesiada de Clarissa Dalloway, nas amachucadas
interrogações de Peter Walsh, no alívio ridículo de Hugh Whitbread e no êxito
social de sir William Bradshaw.
Estamos na revolta de Lucrezia Smith e na conversão desidratada de Sally Seton.
E na correção cinzenta de Richard Dalloway. E também (assustadora constatação!)
na tortura sem saída de Septimus Warren Smith.
Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. Uma angústia que se apodera de nós ao longo da
leitura, porque já morava em nós antes dela. Porque é a angústia do ser humano
em busca de sentido, em busca de si próprio, em busca de um sentido em si
próprio. Precisamos da angústia que nos alimente a luta para nos livrarmos
dela.
Mrs.
Dalloway. Virginia Woolf à
procura de uma saída.
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