Mergulhado nos recônditos aprazíveis do Portugal
profundo, vi-me, durante uma semana, privado do acesso à internet. Entre outros
constrangimentos, a circunstância impediu-me de manter o compromisso da
publicação semanal neste blogue, que é a forma periódica que tenho de dizer aos
meus leitores que estou vivo e penso neles,
Ligado, todavia, ao mundo da “terceira vaga” pela
TDT, assisti na televisão à notícia do décimo aniversário do Skype e de todas as suas virtualidades
de comunicação visual e imediata. A voz de locução evocava as cartas e os
bilhetes postais como ecos difusos de um passado tornado invisível pela
dobragem da esquina de uma evolução tecnológica irreversível e sedutora.
Diante do meu computador portátil, no qual exerci,
durante aqueles dias, uma acrobacia de escrita literalmente «sem rede», digitei
este texto com uma sensação mista entre a purificação e o desamparo. Para além
da nostalgia histórica da “galáxia de Gutenberg”, revisitei a memória das
cartas adolescentes que escrevi, e que enviei esperando resposta. E do tempo
que escorria em tudo isso. E do que crescia em mim durante esse tempo. E do que
se perdia nessa duração. As cartas eram segredos guardados na abstração de um
envelope selado que os comunicava com uma lentidão que se arriscava a
desatualizá-los. O Skype é a eficácia
de comunicação numa partilha de tal modo imediata e concreta e aberta que não
garante o segredo. Porventura, nem deseja.
Para além do seu potencial de realização, os meios
de comunicação ligados à alta tecnologia invocam, atualmente, em sua defesa, uma
sustentabilidade que parece projetá-los numa “quarta vaga”: a dispensa de
suporte de escrita permite evitar o desbaste de florestas (compensado, entre
nós, por recorrentes, trágicos e criminosos incêndios), garantindo viabilidade
enquanto não houver esgotamento dos recursos energéticos.
Que deveremos ainda esperar no futuro, quando todo
este presente for deixado para trás, na dobragem de esquina da evolução
inexorável?
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