terça-feira, 16 de julho de 2013

Texto décimo

Os Miseráveis, de Victor Hugo. A escrita definitiva, a literatura acabada e completa. Fixamo-nos no início de cada volume como em alicerces, crescemos com os capítulos sucessivos, viramos a última página como quem coloca a pedra de fecho da abóbada. E ficamos a contemplar aquela imensa obra, arquitetura de palavras, força contida nas palavras, vida latente na força que as palavras contêm.
Os Miseráveis: palavras que ganham vida para dizer a vida toda com incomparável mestria. Está ali a França das revoluções e das barricadas, a história, o ser humano na metáfora do anseio de liberdade e das barreiras da contradição. Está ali a intriga, a humanidade toda naquelas personagens, nas palavras que as dizem de forma sublime. Estamos ali nós.
Somos nós, naquelas personagens. Somos nós naqueles heroísmos preenchidos de fragilidade, naquelas fraquezas possuídas pela coragem. No sublime e no ridículo, no genuíno e no perverso, na virtude e na baixeza. Somos nós em Jean Valjean e em Javert, em Fantine e nos Thénardier. E em Cosette. E em Marius. E no Gavroche que vive – ou já viveu – ou devia viver ou ter vivido – em cada um de nós. E em todos os outros.
Somos nós naqueles que são muito mais que nós. Elevam-nos a fasquia, transcendem-nos. São literatura, dizem-nos a nós mesmos muito mais. E amamo-los por isso.
Os Miseráveis, de Victor Hugo: o melhor livro que já li.

Sem comentários:

Enviar um comentário