Os
Miseráveis, de Victor Hugo. A
escrita definitiva, a literatura acabada e completa. Fixamo-nos no início de
cada volume como em alicerces, crescemos com os capítulos sucessivos, viramos a
última página como quem coloca a pedra de fecho da abóbada. E ficamos a
contemplar aquela imensa obra, arquitetura de palavras, força contida nas
palavras, vida latente na força que as palavras contêm.
Os
Miseráveis: palavras que ganham
vida para dizer a vida toda com incomparável mestria. Está ali a França das
revoluções e das barricadas, a história, o ser humano na metáfora do anseio de
liberdade e das barreiras da contradição. Está ali a intriga, a humanidade toda
naquelas personagens, nas palavras que as dizem de forma sublime. Estamos ali
nós.
Somos nós, naquelas personagens. Somos nós naqueles
heroísmos preenchidos de fragilidade, naquelas fraquezas possuídas pela
coragem. No sublime e no ridículo, no genuíno e no perverso, na virtude e na
baixeza. Somos nós em Jean Valjean e em Javert, em Fantine e nos Thénardier. E
em Cosette. E em Marius. E no Gavroche que vive – ou já viveu – ou devia viver
ou ter vivido – em cada um de nós. E em todos os outros.
Somos nós naqueles que são muito mais que nós.
Elevam-nos a fasquia, transcendem-nos. São literatura, dizem-nos a nós mesmos
muito mais. E amamo-los por isso.
Os
Miseráveis, de Victor Hugo: o
melhor livro que já li.
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