quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Texto octogésimo oitavo


Digo-me neles nas palavras com que se dizem.
Cruzaram-se-me num acaso de vida, fitaram-se em ânsias de mim, disseram-me nas palavras com que se disseram, estava lá desde antes. Não sabiam?
Cresci neles por dentro, desinstalei-os e colidiram na atração de uma busca. Suaram numa mistura de corpos desejosos de mim, beberam-se em lágrimas das minhas emoções derramadas, sangraram num retalhamento visceral de verdades reveladas minhas, inventadas neles. Adormeceram em mim a cada passo, estive lá sempre, descobriram?
Brilharam enfim na noite, por quatro vezes na noite, pomos de luz pendentes da névoa cinzenta dos dias. Irradiaram verdade e busca, aspergiram claridade e sonho na treva manipulada, gritaram silêncios de corpo e voz, alaridos das intenções todas. Disseram-me na Palavra que me digo neles, estive lá desde sempre, já o sabiam.
Regressam agora cheios de mim na plenitude de si próprios. Já não podem calar-me na eloquência dos olhares, estendem-me entre eles em diálogos de distâncias habitadas, beijam-me em abraços de memórias sincronizadas. Digo-me neles nas palavras com que se dizem, estarei lá para sempre, nunca o esquecerão.

(Fotografia de Jorge Figueiredo, no ensaio de A Chave Perdida)

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