Digo-me neles nas palavras com que se dizem.
Cruzaram-se-me num acaso de vida, fitaram-se em
ânsias de mim, disseram-me nas palavras com que se disseram, estava lá desde
antes. Não sabiam?
Cresci neles por dentro, desinstalei-os e colidiram
na atração de uma busca. Suaram numa mistura de corpos desejosos de mim,
beberam-se em lágrimas das minhas emoções derramadas, sangraram num
retalhamento visceral de verdades reveladas minhas, inventadas neles.
Adormeceram em mim a cada passo, estive lá sempre, descobriram?
Brilharam enfim na noite, por quatro vezes na
noite, pomos de luz pendentes da névoa cinzenta dos dias. Irradiaram verdade e
busca, aspergiram claridade e sonho na treva manipulada, gritaram silêncios de
corpo e voz, alaridos das intenções todas. Disseram-me na Palavra que me digo
neles, estive lá desde sempre, já o sabiam.
Regressam agora cheios de mim na plenitude de si
próprios. Já não podem calar-me na eloquência dos olhares, estendem-me entre
eles em diálogos de distâncias habitadas, beijam-me em abraços de memórias
sincronizadas. Digo-me neles nas palavras com que se dizem, estarei lá para sempre,
nunca o esquecerão.
(Fotografia de Jorge Figueiredo, no ensaio de A Chave Perdida)
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