No
Teatro, a libertação.
Emparedado
na colorida infinitude do palco negro, escapo de mim na liturgia dos gestos, no
oráculo das palavras, na sacralidade da presença.
Qual
flâmine paramentado de si próprio, presido ao rito em que me evado, elevo-me da
roupagem constrangida da existência, onde tudo se restringe ao que se permite.
E perco-me na transcendente nudez do símbolo, onde nada se limita no que se
potencia.
Assisto
em mim ao desprendimento dos fantasmas que me habitam, que mais e mais me
preenchem nas personagens diversas em que fora de mim me expõem, em seus
luminosos gritos de libertos.
O
tempo suspende-se, o espaço desvanece-se, a vida expande-se. E não há liberdade
maior.
Depois,
por não saber evitar, regressarei à contingência, ao horizonte e ao calendário.
Vestirei de novo a roupa engomada de estar algures e mirar-me-ei no espelho embaciado
de quem devo ser. E continuarei, sonhando a próxima fuga.
No
Teatro, a libertação.
O
resto… é silêncio.
Fotografia de Carlos Alberto
Cavaco, no ensaio de Canto do Cisne… ou Talvez Não.
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