Há uma inteligência poética: um olhar colorido e
diferente, a perceção da realidade como uma floresta de símbolos.
Há uma crença que nos mina por dentro: a formulação
de um sentido para a existência ou a descoberta dele, uma noção de
sobrevivência e destino. Uma utopia, necessariamente, que nos permite navegar
num mundo que não encaixa.
Há uma vontade de gritar por escrito: um amor ao
desenho das palavras e à sua alma, um embalo quente no eco da sua conjugação,
que nos consolida em tudo o que nos desmorona. A impossibilidade de não
derramar em texto essa energia inteira que nos habita.
Há um desejo de ser lido: o reconhecimento de uma
incompletude, a certeza de que só nos completamos naquilo em que nos
prolongamos nos outros, os leitores, que se acrescentam daquilo que bebem de
nós.
Há uma necessidade de intervir: um punho fechado
erguido em discurso na luta pela transformação do mundo a partir do homem, dos
factos a partir da mente, das ideias a partir do coração.
Há
um escritor. E a escrita à espera de.
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