Com que palavras se diz a nossa fragilidade?
Dizemos «terramoto» para lembrar a tragédia de múltiplas vidas soterradas nos
escombros de décadas de edificação, ou simplesmente no acaso de estar ali. Dizemos
«incêndios» para gritar a misteriosa injustiça dos infernos deflagrados a horas
mortas que reduzem a cinzas os sonhos de tantas horas vivas, pondo vidas em
risco durante horas infindas. Dizemos «terrorismo» para denunciar os
incompreendidos fanatismos mundiais que camuflam as nossas intolerâncias de
bairro. Dizemos «guerra» para nos revoltarmos contra os ódios seculares que
massacram povos a uma escala numérica maior que as nossas desavenças
familiares. Dizemos «cancro» para chorar a impotência contra todos os monstros
que crescem dentro de nós mesmos. E dizemos tantas outras palavras que soam a
becos sem saída, nesta ânsia de salvação que nos corre nas veias.
Mas não conseguimos dizer «culpa», porque raramente
sabemos a quem atribuí-la. Por isso dizemos «humanidade», que é talvez a forma
mais descomprometida de justificarmos a nossa fragilidade.
O problema… é que queremos mais.
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