Paris em novembro.
Bruta demais, esta violência! Injusta até à
crueldade, desumana até ao desespero. Vergo-me perante a insensatez, torço-me
num ponto de interrogação impotente. Quereria ver reticências de esperança que
não consigo: porventura estendem-se para a frente, mas a cabeça curvada faz-me
olhar para trás, mergulhar nos recônditos da humanidade, perscrutar as razões
que o não são. Insensatez.
Paris em novembro.
Porque acredito no Homem, cerro os ouvidos a gritos
de vingança, estremeço perante promessas de retaliação, fujo de exorcismos de
raiva. Porque tudo isso eu sinto, também. Sem querer, porque acredito no Homem,
nos homens, no homem que sou e nos outros. E no Outro. Não é possível que
sejamos só isto, este Paris em novembro. Tem de haver algo mais que nos fez atravessar
os séculos, chegar aonde estamos, fazer-nos o que somos. O Homem.
Paris em novembro.
Procuro um perdão que exista. Peço-o. Não para as
vítimas: já o obtiveram pelo martírio. Mas para os próximos delas: merecem-no
demais para ousarem precisar dele. E para os carrascos: precisam demasiado dele
para se dignarem merecê-lo. Procuro um perdão que exista e nos salve desta loucura
de nós mesmos. Talvez o Outro…
Paris em novembro.
Bruta demais, esta violência! Procuro um perdão que
exista, que suplante a insensatez. Que será do Homem sem ele?...
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