Dói demais esta distância de olhar-te e não
te reconhecer quem foste. Dilacera-me este muro de te ver olhares-me sem
saberes já lembrar quem sou. E mergulho impotente neste abismo de lágrimas
raivosas, escorridas na pele resignada na aceleração do choro.
Fecho os olhos embaciados para te rever
antiga, no sorriso jovem com que me iluminavas a infância e dizias o meu nome
entre as carícias e repreensões com que me educaste. Foram tempos de ternura e
firmeza, dedo esticado e abraço quente, em que me fizeste aquela que sou.
Alegrámo-nos juntas nas confidências que sofremos a meias, unidas no riso e solidárias
no pranto. Foste minha mãe acima de tudo, fui tua filha mais que todos. Cresci
nesta inexorável aproximação a ti.
Agora estamos frente a frente e não somos.
Apagaste-te num muro invisível que se ergueu sem tu esperares, que te emparedou
sem eu querer. Não há entrada para ti nessa prisão do pensamento ausente, não
há saída para mim deste labirinto das emoções visíveis. Choro assim, impotente,
este inexorável afastamento de ti.
Dói
demais esta distância de olhar-te e não te reconhecer quem foste. Dilacera-me
este muro de te ver olhares-me sem saberes já lembrar quem sou. Porém, estamos
aqui, porque existimos. És a minha mãe mais que nada. Sou tua filha apesar de
ninguém.
Sem comentários:
Enviar um comentário