Nasceste
numa inspiração. Exististe como um sopro, proclamaste a verdade como um
trânsito. Sabias-te efémero.
Viveste
enquanto te concederam a vida. Tiveste a longevidade da nossa coragem de
sustentar-te, inscreveste-te no calendário da nossa aceitação de ti. Sem morada
permanente, tinhas os dias contados.
Depois,
calaste-te como um fim. A tua voz extinguiu-se, a tua seiva ressecou. A tua
cabeça decepada diz os teus olhos cerrados numa profecia calada. Ecoa apenas, no
silêncio da lembrança habitada, a Palavra que és. Persistente e incómoda,
piedosa e terrível. Sedutora e indizível.
Seguro-te
na tremura dos meus dedos, unhas roídas no desespero de teres acabado.
Retenho-te pelos fios de uma memória hirsuta, floresta de emoções plantada em
mim. Conservo-te em tudo o que me tornei contigo, por ti.
Teatro.
A experiência transformadora.
Aprendizagem
de morte. Desejo de vida. Poder da arte.
(Fotografia de Jorge Figueiredo, na última apresentação de O Poder e o Desejo)
(Fotografia de Jorge Figueiredo, na última apresentação de O Poder e o Desejo)
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