sábado, 18 de abril de 2015

Dizer a Imagem 9 - Experiência


Nasceste numa inspiração. Exististe como um sopro, proclamaste a verdade como um trânsito. Sabias-te efémero.
Viveste enquanto te concederam a vida. Tiveste a longevidade da nossa coragem de sustentar-te, inscreveste-te no calendário da nossa aceitação de ti. Sem morada permanente, tinhas os dias contados.
Depois, calaste-te como um fim. A tua voz extinguiu-se, a tua seiva ressecou. A tua cabeça decepada diz os teus olhos cerrados numa profecia calada. Ecoa apenas, no silêncio da lembrança habitada, a Palavra que és. Persistente e incómoda, piedosa e terrível. Sedutora e indizível.
Seguro-te na tremura dos meus dedos, unhas roídas no desespero de teres acabado. Retenho-te pelos fios de uma memória hirsuta, floresta de emoções plantada em mim. Conservo-te em tudo o que me tornei contigo, por ti.
Teatro. A experiência transformadora.
Aprendizagem de morte. Desejo de vida. Poder da arte.

(Fotografia de Jorge Figueiredo, na última apresentação de O Poder e o Desejo)

Sem comentários:

Enviar um comentário