sexta-feira, 27 de junho de 2014

Dizer a Imagem 4: Tu


O coração aberto em que te insinuas é o cadeado em que te fechas. Seduzes-me no meneio ondulado das tuas curvas paradas, no requebro das pregas em que te vendes. E repeles-me na frieza branca da tua dureza exposta, na ausência de cor em que a tua imagem se esconde.
Atrais-me no que me afasta de ti. És intocável na tua imensa possibilidade. Desenho-te um rosto, sonho-te uma alma no corpo em que te mostras.
Quem és tu?

(Fotografia de Jorge Figueiredo)

2 comentários:

  1. Meu Caro:

    Parabéns por mais um pequeno texto brilhante.
    Espero que continue a percorrer a sua veia literália , pois é o caminho que só e apenas algumas pessoas conseguem ultrapassar.
    Mais uma vez, o texto faz-nos ficar maravilhados a sua paixão e estima ás palavras. Sim , porque as palavras valem ouro e uma palavra só pode derrubar o Mundo e fazer a diferença.
    A fotografia é também bastante interessante.
    Paulo Zé da Branca.

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    1. Muito obrigado pelo seu comentário.
      É verdade que tenho uma relação de grande ternura e respeito com as palavras e acredito que as palavras certas podem, de facto, fazer a diferença. Essa é, para mim, a grande vantagem da escrita que, mais refletida do que a oralidade, tende a ser mais oportuna e certeira.
      Concordo consigo quanto à fotografia. O meu amigo Jorge é uma verdadeiro artista, com uma sensibilidade apuradíssima. Como acontece com muita gente, está desperdiçado no anonimato desta existência que é um rolo compressor de urgências.
      Um abraço!

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