Há textos assim: desvendam-se profundamente na clareza
com que nos desvendam; dizem-nos brutalmente na nudez em que se dizem.
Há escritores assim: escondem-se na frágil gaiola
dourada das palavras robustas que tecem; revelam-se nessa urdidura inocente e
necessária. Inocente porque necessária. E expõem-nos, escancaram-nos
impiedosamente naquilo que escondemos, no modo como o escondemos.
Cassiopeia,
a nova peça escrita por Miguel Graça, a cuja estreia tive o privilégio de
assistir, é assim. Mas é muito mais. É uma encenação de Pedro Caeiro
suficientemente corajosa para servir o texto sem nunca ceder à tentação
mesquinha de servir-se dele, num arrojo minimalista de que resulta uma
plenitude esmagadora. É um trabalho dos atores (David Esteves, Joana Ribeiro
Santos e Vítor Silva Costa) que se alimenta da escrita a que se entrega, numa
generosidade sacrificial, num ritual de talento e suor.
O resultado de tudo isto é uma obra de arte de uma
consistência dolorosa e libertadora. Pelo menos, foi assim que eu a vi.
A não perder. Só até domingo. No Teatro Taborda.
Sem comentários:
Enviar um comentário