Que
farei do teu gosto deixado em restos nas travessas? Que farei da jarra vazia da
tua beleza, da prisão das laranjas que me lembra o sumo matinal, a vitamina de
acordar a teu lado?
Que
farei da luz em que já não me entras casa adentro? Que farei do clarão que
conservo refletido nas coisas, a devolução do olhar com que pinto a esperança
de ti na paisagem que imagino para lá da porta fechada dos teus passos? Que
farei deste retalho quadriculado, ânsia cada vez mais vã de que voltes um dia?
Que
farei desta espera de copo vazio? Que farei deste definhamento enganado na boa
forma da revista, destas paredes que escorrem o brilho branco da saudade de nos
roçarmos nelas?
Que
farei do abandono da chave do carro, renúncia de ir buscar-te por não saber
aonde?
Que
farei, enfim, desta imagem desgastada do meu cansaço de olhá-la, manchada da
minha desistência de acreditar que um dia voltarás?
Que
farei, quando nada resta? Que farei, quando tudo são restos?
(Fotografia de Jorge Figueiredo)
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