Noventa
e Três é tido como o último
romance de Victor Hugo. Publicado em 1874, é uma lição de escrita de um romance
histórico. O magistral retrato da França revolucionária não pode deixar de nos
envolver: o fervor republicano sobreposto ao ideal monárquico taciturno, o
Terror revolucionário, gerado nas entranhas do povo, de armas em riste contra a
resistência aristocrática orquestrada do exterior.
A revolta da Vendeia é o pano de fundo sobre o qual
Victor Hugo deixa correr a história do marquês de Lantenac, nobre condutor dos
camponeses dispostos a morrer por uma monarquia que os reduz à miséria, e do
seu sobrinho-neto Gauvain, o idealista revolucionário disposto a chacinar a
população em nome da liberdade que pretende oferecer-lhe. À volta da intriga,
tão intervenientes como espetadores, surgem as personagens históricas do
período da Convenção, das quais inevitavelmente se destacam Marat, Danton e
Robespierre, a páginas tantas protagonistas de um diálogo verdadeiramente
sublime.
Mas o melhor da obra está guardado para o fim: o
Livro Sexto e o Livro Sétimo da Terceira Parte constituem um hino à dignidade
humana de que ninguém menos que o maior vulto da literatura seria capaz. É
preciso ler aquelas páginas para (re)descobrir o valor intrínseco e profundo do
ser humano, para entender que as opções radicais da honra elevam o homem bem
acima das desprezíveis manobras de sobrevivência a todo o custo. É preciso
devorar aquela escrita e fechar enfim o livro para acender a cínica lanterna de
Diógenes e recomeçar, neste cinzento nevoeiro de relativismo moral dos nossos
tempos, a busca do Homem nos rostos dos pigmeus que até de si próprios se
escondem.
Noventa e Três
é tido como o último romance de Victor Hugo. Publicado em 1874, é uma lição de
escrita de um romance histórico. É uma lição de escrita de um romance. É uma
lição de escrita. É uma lição. É.
Estou a ler este livro, e gostando muito :)
ResponderEliminarAinda bem!
EliminarLeia até ao fim. Verá que o final, sublime por si só, confere um significado maior a toda a obra.
Boa leitura!