Adolescência. As férias eram passadas na cidade. Na
solidão passeada nas ruas. No olhar desenrolado em volta, preso por dentro num
silêncio curioso e derramado sobre as monotonias de asfalto e calçada, o prumo
dos edifícios, a fluidez da gente. Ou nas quatro paredes do quarto, a meditação
claustrofóbica alternando com os gritos mudos desenhados, o mergulho a pique na
leitura intercalado com as braçadas vigorosas da escrita incipiente.
Adolescência. As férias eram isolamento, descoberta
de si, procura interrogada, esboços de resposta, reticências. O excesso de
solidão tornou-o incompreendido, ao mesmo tempo que gerou nele uma perceção
maior de tudo. A quietude debruçada divorciou-o de uma realidade de ocupação e
conquista, segregou-o para uma nuvem de afastamento e dádiva. O mundo dos
outros vibrava-lhe dentro numa espécie de infrassons de comoção e delírio.
Adolescência. Todos o julgavam insensível e vazio,
enquanto ele crescia para albergar em si toda a realidade que observava, para
inventar uma utopia que lhe superasse o desgosto do que via. Desconstruía na
mente e reconstruía no sonho.
Um dia parou de crescer. Maturidade. Teve de
enfrentar a vida fora de si. Revestiu-se de uma roupagem de relações, decidiu
tornar-se alegre e comunicativo. Todos, à sua volta, saudaram a sua
sensibilidade adquirida, a sua riqueza interior revelada. O companheiro que se
ganhara.
Só ele teve noção do que se perdera. Só ele soube.
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