segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Texto quinquagésimo primeiro

Ver-te adulto no espaço vazio é o prolongamento natural de ter-te recém-nascido nos meus braços cheios. Estremece-me a alma na contemplação desta libertação do teu talento maduro que me envolve no aconchego com que te prendo às noites de menino. Nos sentimentos de alegria e dor que agora interpretas na distância de palavras de outra língua está o olhar sonhador de há anos, quando, bem próximo, declaraste sem palavras que ias partir e ainda não sabias que irias partir.
Ver-te adulto no espaço vazio é o prolongamento natural de ter-te recém-nascido nos meus braços cheios. Na segura eloquência da energia que irradias vejo desvendar-se o mistério que contemplo no silêncio custódio de proteger-te a infância frágil. E orgulho-me de comover-me por sentir que é a tua força que me protege da fragilidade de envelhecer e desistir.
O tempo corre, a vida é inteira. Ligamo-nos hoje pelo ontem que aqui nos trouxe, soltamo-nos no amanhã que somos desde sempre. O tempo corre, a vida é inteira. Ver-te adulto no espaço vazio é o prolongamento natural de ter-te recém-nascido nos meus braços cheios. Somos o que fomos, estamos no que somos. E iremos para onde. 

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