sábado, 15 de agosto de 2015

Texto quadragésimo sétimo

Férias na província. Um mergulho na natureza, um cheiro de terra quente e seca, uma respiração essencial e pura. Um afastamento, um jejum tecnológico com sabor a conversão, um olhar expandido às estrelas em grito de liberdade.
Férias na província. Um rústico aconchego caseiro, uma precariedade de tábuas, a exiguidade apetitosa. E um sufoco de brasas, iguarias crestadas sobre a grelha numa simplicidade primitiva. Odor a lenha, sabor a vida.
Férias na província. Um encontro com o ancestral, um espelho de perenidade que me mostra frágil e transitório. Uma noção de eterno retorno, um vislumbre de Idade de Ouro, qualquer coisa de genesíaco numa quietude de paraíso perdido.
Férias na província. Um folhear de passado. Eu num cenário exterior a mim. Identidade na diferença. Reencontro. 

1 comentário:

  1. Obrigado. Há, de facto, uma bênção no uso sábio das palavras, mas só quem a experimenta sabe o gosto de penitência que ela esconde...
    Verter o texto? Claro que sim, é para mim um grande gosto. Mas talvez seja também um privilégio imerecido: Shakespeare e Rilke não se sentiriam profanados?...

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